REAGIR
As reflexões que conheço sobre o
momento atual insistem muito nas contradições da sociedade contemporânea, na
gravidade da crise sociocultural e econômica e no carácter decadente destes
tempos. Sem dúvida, também falam de fragmentos de bondade e beleza, e de gestos
de nobreza e generosidade, mas tudo isto parece ficar como que oculto pela
força do mal, pela deterioração da vida e pela injustiça. No final, todas são
«profecias de desventuras».
Esquece-se, em geral, de um fato extremamente
esperançoso. Está crescendo na consciência de muitas pessoas um sentimento de
indignação ante tanta injustiça, degradação e sofrimento. São muitos os homens
e mulheres que já não se resignam a aceitar uma sociedade tão pouco humana. Do
seu coração, brota um firme «não» ao inumano.
Esta resistência ao mal é comum a cristãos
e agnósticos. Como dizia E. Schillebeeckx, pode-se falar de «uma frente comum,
de crentes e descrentes, por um mundo melhor e mais humano». No fundo desta
reação está a procura de algo diferente, um reduto de esperança, um desejo de
algo que esta sociedade não está oferecendo. É o sentimento de que poderíamos
ser mais humanos, mais felizes e melhores numa sociedade mais justa, ainda que
sempre limitada e precária.
Neste contexto, o apelo de Jesus torna-se
particularmente atual: «Estejam de vigilantes». São palavras que nos convidam a
despertar e a viver com mais lucidez, sem nos deixarmos arrastar e modelar
passivamente pelo que se impõe nesta sociedade. Talvez isto seja o principal: reagir
e manter desperta a resistência e a rebeldia; atrever-nos a ser diferentes; não
nos comportarmos como toda a gente; não nos identificarmos com o inumano desta
sociedade; viver em contradição com tanta mediocridade e falta de sensatez. Em
suma: iniciar a reação.
Devem animar-nos duas convicções. A
primeira, é que o ser humano não perdeu a sua capacidade de ser mais humano e
de organizar uma sociedade mais digna. A outra, é que o Espírito de Deus
continua a agir na história e no coração de cada pessoa. É possível mudar o
rumo errado que esta sociedade tem seguido. O que é necessário é que haja cada
vez mais pessoas lúcidas que se atrevam a introduzir sensatez no meio de tanta
loucura, sentido moral no meio de tanto vazio ético, calor humano e
solidariedade no interior de tanto pragmatismo sem coração.
José
Antonio Pagola
Tradução
de Antonio Manuel Álvarez Perez
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