Ano A | 18ª
Semana Comum | Quarta-feira | Mateus 15,21-28
(09/08/2023)
O texto proposto para a meditação de hoje omite os
versículos que registram a explicação que Jesus oferece aos discípulos que o
interrogam sobre o sentido da parábola com a qual fala daquilo que realmente
torna a pessoa impura (v. 15-20). Depois da dura crítica aos mestres da lei e aos
fariseus, e depois da instrução incisiva ao povo e aos discípulos, Jesus, mais
uma vez, desembarca, com seus discípulos, em pleno território pagão.
Ali Jesus é procurado por uma mulher desprezada e
marginalizada por ser pagã, por ser mulher, por ser estrangeira e por ser mãe
solteira, viúva ou abandonada pelo marido (pois não há nenhuma referência a
irmãos e marido). Essa mulher faz parte de um povo que a tradição judaica trata
como amaldiçoado por Deus, mas ela se aproxima de Jesus e pede sua ajuda em
favor de sua filha psiquicamente perturbada. É a primeira mulher a falar no
evangelho de Mateus!
Inicialmente, mesmo sendo invocado como filho de
Davi, o defensor ideal dos indefesos, Jesus não se importa com o grito da
mulher que pede socorro, e a trata no horizonte da ideologia da supremacia dos
judeus sobre os demais povos. Jesus dá a entender que foi enviado
prioritariamente aos judeus, e é isso que ele se sente obrigado a fazer. Ou
essa seria a ideologia que tentava os discípulos/as missionários/as na época em
que Mateus escreve seu evangelho?
Os discípulos querem se livrar da mulher, mas ela
não desiste, e questiona a ideologia do privilégio de Israel diante de Deus e
da supremacia diante dos demais povos! Então Jesus se dirige diretamente a ela,
mas para reforçar a prioridade do seu povo sobre os pagãos. E a mulher, que
surge na cena como uma pessoa frágil e necessitada, manifesta explicitamente
sua fé, se aventura a discutir teologia, e reinterpreta a afirmação excludente
de Jesus. Ela, que apareceu tímida, atreve-se a desobedecer às repreensões dos
discípulos e até a discutir com Jesus. Exemplo de uma espantosa consciência da
própria dignidade.
Jesus acaba reconhecendo na luta persistente
daquela mulher contra a exclusão étnica e religiosa uma clara manifestação de
fé. Esta fé produz frutos, e a necessidade daquela mulher é atendida. Graças à
persistência de um personagem considerado excluído e tratado como inferior, o
cristianismo se abriu aos diversos povos e suas culturas. Acolhamos
agradecidos/as o testemunho inquieto das mulheres numa Igreja de ministros
masculinos.
Meditação:
§ Participe
da cena: o desembarque de Jesus, os gritos da mulher, a indiferença de Jesus, a
insistência da mulher e a reação de Jesus
§ Será
que também nossa Igreja ainda prioriza setores privilegiados e descarta pessoas
e grupos por preconceitos diversos?
§ Somos
capazes de reconhecer na luta perseverante e até raivosa de algumas pessoas e
grupos sinais de fé aguerrida?
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