sábado, 12 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (77)

Ano A | 19ª Semana Comum | Domingo | Mateus 14,22-33

(13/08/2023)

Jesus revela-se um Deus compassivo com os pobres, um Deus que tem necessidade da nossa colaboração – nem que seja apenas cinco pães e dois peixes! – na sua ação libertadora. E é ele que nos convida a superar o medo e confiar na sua presença em todas as travessias. Os discípulos de Jesus imaginavam um Deus indiferente às necessidades dos famintos ou suficientemente poderoso para resolver sozinho todas as dificuldades do povo.

Apesar dos séculos de pregação, as imagens de um Deus poderoso e ameaçador, ou então nacionalista e ligado aos interesses de pequenos grupos, ainda não se apagaram da nossa memória. Ensinaram-nos que Deus se revela no poder destruidor dos terremotos, no fogo devorador das ideologias totalitárias, no mistério aterrador dos furacões, nos pesados decretos que condenam, na dura punição aos que erram. Deus seria onipotente, onisciente e onipresente, e quanto mais poder ou saber alguém possui, mais se pareceria com ele.

Diante de um Deus com estas características, caímos por terra ou gritamos de medo. E do ventre do medo não costuma nascer o amor que se faz dom, mas a agressividade da autodefesa ou da dominação. Um Deus com tais traços é um fantasma, uma fantasia que se abriga nas pessoas que não superaram o desejo infantil de onipotência. E este fantasma, via de regra, está a serviço das diversas formas de dominação e de infantilização religiosa, econômica e política. Parecemo-nos com Pedro, que tenta caminhar sobre as águas, revelando seu desejo de participar da presumida onipotência de Deus...

É o medo dos ventos contrários, das diferenças e dos questionamentos que gera a dúvida e nos leva a afundar, tanto em termos humanos como espirituais. O medo não nasce da verdadeira experiência de Deus, mas de uma imagem parcial ou confusa de Deus. É isso que percebemos nos discípulos no episódio da travessia do mar: a força do vento e das ondas que fustiga a barca como a tirania dos poderosos, somada à ideia de um Deus que caminha indiferente sobre as ondas, arranca-lhes gritos de pavor. E esta dúvida sobre a divindade de um Jesus frágil e compassivo leva Pedro a afundar apavorado.

 Meditação:

·        Acompanhe Jesus retirando-se para uma noite de oração; os discípulos gritando de pavor no meio da noite e do mar agitado; a aproximação de Jesus, seu diálogo com Pedro e a calmaria

·        Tente perceber o conteúdo do diálogo orante de Jesus com o Pai: certamente ele faz menção ao pão tornado acessível a todos, aos discípulos que ele havia enviado à sua frente

·        Recorde situações de desespero pelas quais você, sua família e sua comunidade passaram, e como a fé lhes ajudou

 Será que sua fé também às vezes também se mostra frágil e desconfiada como a de Pedro? 

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