A vida concreta e
frágil vale mais que as leis
883 | 31 de outubro
de 2025 | Lucas 14,1-6
Fiel
à herança profética, Jesus não muda sua prática, seu anúncio e o rumo da sua
caminhada, mesmo diante da ameaça de Herodes. Segue intrépido, corajoso e
generoso, sem fazer nada para se proteger. Ele se situa na linha dos profetas,
e é o Pai, e não Herodes ou seus asseclas, quem vai dizer quando e como deve
dar sua missão por terminada. Por enquanto, ele é quem decide, e, como sempre,
não toma decisões pensando em sua própria segurança.
Dito e feito! Em
pleno sábado Jesus desrespeita – de novo! – a lei e, numa refeição na casa de
um dos chefes dos fariseus, cura um homem doente sem que ele tenha sequer
pedido. Ignorando o olhar vigilante dos piedosos e ardilosos judeus, Jesus os
provoca a tomar uma posição. Essa é a questão que atravessa a cena de hoje,
cena que inaugura a seção das refeições simbólicas de Jesus que nos apresenta o
evangelista Lucas (cf. Lc 14,1-24).
A pergunta de Jesus é
direta: “A lei permite curar em dia de sábado, ou não?” E os fariseus guardam
silêncio. Para Jesus, o reino de Deus e a defesa da vida se impõem, e não estão
condicionados ao tempo e lugar. A lei inspirada por Deus visa garantir o
repouso e assegurar a liberdade e a dignidade dos seus filhos e filhas de Deus.
Se os piedosos judeus descumprem a lei para salvar um animal, não há razão
aceitável para se opor à cura de uma pessoa necessitada num dia proibido pela
lei.
Na verdade, Jesus não
nega a legitimidade das leis e dos ordenamentos religiosos ou civis, mas os
coloca em uma nova perspectiva. Segundo Jesus, o que fazemos sem problemas
quando estão em jogo nossos interesses (evitar o prejuízo com a morte de um
animal) devemos fazê-lo, mais ainda, em benefício dos seres humanos que estão
em dificuldades. Nada de fossilizar ou reduzir a vontade de Deus a princípios e
esquemas abstratos, afastando-os da vida concreta!
Não nos defendamos da interpelação de Jesus relegando-a ao
passado. É permitido ou não aprovar as uniões homoafetivas? É lícito ou não
ocupar latifúndios improdutivos? É possível compartilhar a eucaristia com
cristãos de outras Igrejas? É aceitável defender a admissão de mulheres ao
ministério? É possível “furar” o teto de gastos ou o “arcabouço fiscal” para
atender a população desempregada, doente e sem escola, ou para amenizar os
prejuízos das enchentes ou das queimadas? E as perguntas podem continuar ainda
por muitas linhas...
Sugestões para a meditação
§ Acompanhe
Jesus à casa do chefe dos fariseus, acompanhe seu olhar voltado ao homem doente
§ Perceba
também o olhar vigilante e reprovador dos fariseus reunidos em torno da mesa e
a indignação de Jesus
§ Será que, de
algum modo, não caímos na tentação de “fossilizar” a vontade de Deus ou
reduzi-la a abstratos esquemas e princípios fios e impessoais?
 
