A juventude e o desafio de cuidar da
Criação
No quarto domingo de outubro as comunidades católicas
celebram no Brasil o Dia Nacional da Juventude. Esse não quer ser um evento a
mais, mas parte de um processo contínuo de formação. Em 2025, guiadas pelo lema
“Jovens, guardiões da Criação”, as juventudes são convidadas a pensar, refletir
e realizar iniciativas no cuidado com a vida.
Mais uma vez, inspiro-me no Papa Francisco. Ele
observa que os adultos de hoje caímos frequentemente na tentação de fazer uma
lista enorme de vícios e defeitos da juventude, em parte, reais. Alguns há quem
nos aplaude, imaginando que somos defensores dos bons costumes e especialistas
nos aspetos negativos e perigos. “Mas, a que levaria isso? Uma distância sempre
maior, menos proximidade, menos ajuda mútua”.
O Papa Francisco vê o jovem como “alguém que caminha
com os dois pés, mas colocando um atrás do outro, pronto para partir. Falar de
jovens significa falar de promessas, de alegria. Um jovem é uma promessa de
vida. Eles têm suficiente insensatez para enganarem-se e suficiente capacidade
para curar a decepção que daí pode derivar”.
Oxalá apoiemos e estimulemos os jovens como o Papa:
“Ainda que possam se enganar, arrisquem. Não vivam anestesiados. Não olhem o
mundo como se fossem turistas. Abandonem os medos que paralisam. Não se deixem
mumificar. Entreguem-se ao melhor da vida! Abram as portas da gaiola e voem!
Por favor, não se aposentem antes do tempo!”
Nossa mensagem, explícita ou implícita, deveria ser:
“Jovens, não renunciem ao melhor da juventude. Não observem a vida da sacada.
Não confundam a felicidade com um sofá, nem passem a vida diante duma tela. Não
sejam como um veículo abandonado, como carros estacionados à beira da estrada.
Deixem brotar os sonhos e tomem decisões”.
A sabedoria e a lucidez próprias de pai, de mãe, de
pastor ou guia dos jovens os leva a “encontrar a pequena chama que continua a
arder, a cana que parece quebrar-se, mas ainda não se partiu. É a capacidade de
visualizar brechas, portas e caminhos onde outros só veem muros, é saber
reconhecer possibilidades onde outros só veem perigos”.
É verdade que precisamos nos ocupar da educação das
juventudes, especialmente da educação para os valores da paciência, da
tolerância, da fraternidade, da justiça, da paz e o cuidado da criação. Mas
essa educação supõe em nós a disposição de escutá-los e valorizá-los; de atuar
mais com eles que para eles; de guiá-los na aquisição de valores culturais e
éticos; de superar a ditadura do presente por uma visão de futuro; de oferecer
uma educação livre da ditadura das informações e da tecnologia.
Finalmente, a educação para a justiça, a paz e o
cuidado da criação deve ocorrer na justiça e na paz, num ambiente familiar,
escolar e eclesial no qual a justiça, a paz, a fraternidade e a solidariedade
são testemunhadas em relações cotidianas e não se reduzam a conceitos ou
deveres. Para isso, precisamos avaliar os processos e os programas formativos
das nossas comunidades, escolas e universidades.
Dom Itacir Brassiani msf
Bispo de Santa Cruz do Sul
 
 
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