Será que Deus não se
importa com os pobres?
871 | 19 de outubro de
2025 | Lucas 18,1-8
O episódio do evangelho de hoje se relaciona com
aqueles que lemos e meditamos nos últimos domingos pelo tema da fé confiante e
perseverante. A questão central não é propriamente a oração em si mesma, mas
aquilo que ela busca e expressa: a fidelidade a Deus e a confiança nele,
especialmente quando buscamos a justiça às vítimas e vivemos tempos de demora e
tribulação.
A parábola do juiz e da viúva é, no mínimo,
inusitada. Se a figura de uma viúva injustiçada e indefesa pode facilmente
representar os discípulos em tempos de perseguição, um juiz desumano,
religiosamente indiferente e pragmático não parece uma boa representação da
ação de Deus, ao menos da imagem de Deus que Jesus Cristo nos apresenta em sua
ação e em seu ensino.
Vivendo num tempo de perseguições violentas, de
aparente ausência ou de silêncio de Deus, a comunidade dos discípulos de Jesus
se questiona quando isso terá fim, quando Jesus se manifestará em sua glória. O
risco da desilusão e da resignação é grande, e só lhes resta um recurso para
combatê-lo: a insistência, a perseverança. Mas isso não era fácil, como nunca
será um voo em céus de brigadeiro.
É nisso que a figura da viúva suplicante reforça a
exortação de Jesus. A viúva não se resigna nem se intimida frente à absoluta
indiferença do juiz. A insistência é a única alternativa que lhe resta, em sua
vulnerabilidade. Esta perseverança insistente de uma pessoa indefesa produz
seus frutos, pois acaba dobrando o juiz insensível.
A lição de Jesus é evidente. Se um juiz desumano,
injusto e indiferente se dobra e atende, por razões pessoais e pragmáticas, a
demanda da viúva indefesa, Deus Pai não pode ser menos que ele. O Pai está
sempre atento aos clamores e dores do seu povo, e pronto a atender as
necessidades dos seus filhos e filhas. Ele toma a peito a causa dos pobres, sem
privatizar ou terceirizar o atendimento.
Para Jesus, a oração confiante testemunhada pela viúva injustiçada não
tem um caráter piedoso e pragmático, mas engajado e programático. A oração
cristã ajuda a discernir, acolher e realizar a vontade do Pai. Se faltar essa
atitude de busca confiante, se grassarem a dúvida na força e no socorro de
Deus, não há mais fé. Somos chamados a levar essa esperança que não engana ao
mundo inteiro.
Sugestões para a meditação
§ Procure sintonizar com os diferentes grupos sociais e
cristãos que lutam desesperadamente por sua dignidade e seus direitos
§ Procure acolher, compreender e tirar as consequências da
afirmação de que Deus leva a peito as dores dos seus filhos
§ A fé vivida e celebrada por sua comunidade suscita
perseverança nas lutas e confiança na justiça de Deus?
 
 
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