sábado, 18 de outubro de 2025

A viúva e o juiz

Será que Deus não se importa com os pobres?

871 | 19 de outubro de 2025 | Lucas 18,1-8

O episódio do evangelho de hoje se relaciona com aqueles que lemos e meditamos nos últimos domingos pelo tema da fé confiante e perseverante. A questão central não é propriamente a oração em si mesma, mas aquilo que ela busca e expressa: a fidelidade a Deus e a confiança nele, especialmente quando buscamos a justiça às vítimas e vivemos tempos de demora e tribulação.

A parábola do juiz e da viúva é, no mínimo, inusitada. Se a figura de uma viúva injustiçada e indefesa pode facilmente representar os discípulos em tempos de perseguição, um juiz desumano, religiosamente indiferente e pragmático não parece uma boa representação da ação de Deus, ao menos da imagem de Deus que Jesus Cristo nos apresenta em sua ação e em seu ensino.

Vivendo num tempo de perseguições violentas, de aparente ausência ou de silêncio de Deus, a comunidade dos discípulos de Jesus se questiona quando isso terá fim, quando Jesus se manifestará em sua glória. O risco da desilusão e da resignação é grande, e só lhes resta um recurso para combatê-lo: a insistência, a perseverança. Mas isso não era fácil, como nunca será um voo em céus de brigadeiro.

É nisso que a figura da viúva suplicante reforça a exortação de Jesus. A viúva não se resigna nem se intimida frente à absoluta indiferença do juiz. A insistência é a única alternativa que lhe resta, em sua vulnerabilidade. Esta perseverança insistente de uma pessoa indefesa produz seus frutos, pois acaba dobrando o juiz insensível.

A lição de Jesus é evidente. Se um juiz desumano, injusto e indiferente se dobra e atende, por razões pessoais e pragmáticas, a demanda da viúva indefesa, Deus Pai não pode ser menos que ele. O Pai está sempre atento aos clamores e dores do seu povo, e pronto a atender as necessidades dos seus filhos e filhas. Ele toma a peito a causa dos pobres, sem privatizar ou terceirizar o atendimento.

Para Jesus, a oração confiante testemunhada pela viúva injustiçada não tem um caráter piedoso e pragmático, mas engajado e programático. A oração cristã ajuda a discernir, acolher e realizar a vontade do Pai. Se faltar essa atitude de busca confiante, se grassarem a dúvida na força e no socorro de Deus, não há mais fé. Somos chamados a levar essa esperança que não engana ao mundo inteiro.

 

Sugestões para a meditação

§ Procure sintonizar com os diferentes grupos sociais e cristãos que lutam desesperadamente por sua dignidade e seus direitos

§ Procure acolher, compreender e tirar as consequências da afirmação de que Deus leva a peito as dores dos seus filhos

§ A fé vivida e celebrada por sua comunidade suscita perseverança nas lutas e confiança na justiça de Deus?

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