Aos olhos de Deus,
ninguém é mais que ninguém!
878 | 26 de outubro
de 2025 | Lucas 18,9-14
Só não vê quem não quer, para não ter
que mudar de atitude: vivemos numa sociedade polarizada, com grupos
contrapostos por ideologias e por disputa de espaços e poderes. O argumento
moral – “nós, os cidadãos de bem; eles, os malfeitores, preguiçosos” – é usado
com uma frequência espantosa. E a ideologia da meritocracia acabou oferecendo
uma justificação adequada a esta divisão social. 
Alguém pode se surpreender ao constatar que
esta mesma postura estava presente na sociedade e no contexto cultural no qual
Jesus de Nazaré viveu e atuou. Naquele tempo, vigorava o muro ideológico e
religioso que separava e opunha puros e impuros. A ideologia da pureza – que
misturava critérios sanitários, religiosos, morais, étnicos e sociais – definia
quem era puro e impuro, quem era “cidadão de bem” ou “elemento suspeito”.
Na parábola de hoje, estes dois grupos ou setores
sociais estão tipificados nas figuras do fariseu e do publicado. O primeiro, se
considera e é tratado como homem correto, merecedor, justo, superior, ou
cidadão digno. O segundo, é visto e tratado como suspeito, sujo, herege, sem
dignidade e sem direito ao respeito e à cidadania. A prática da oração não os
torna iguais perante a Deus, apenas escancara as diferenças. A oração de um é eivada
de orgulho e desprezo; a do outro nasce da humildade.
Para Jesus e seu Evangelho, ninguém pode se
arrogar o status de melhor, superior, honrado, merecedor. Todos, fariseus e
publicanos, são pecadores e necessitam de conversão. O fariseu, que manifesta
na oração seu orgulho e desprezo pelos outros, exatamente por isso também é
pecador. A diferença é que o publicano, explicitando a dor da exclusão e a
percepção das próprias contradições, é acolhido e justificado, enquanto que o
fariseu, que se considera justo, melhor e superior aos demais, continua devendo
e alimentando uma imagem distorcida de si e dos outros.
A humildade não é
um simples ou falso sentimento de inferioridade, mas a consciência justa e
correta daquilo que somos: vazio, dependência, ambiguidade, desejo. É o
reconhecimento de que somos todos devedores uns aos outros, de que ninguém –
começando por mim mesmo – é maior e melhor que ninguém. Somos o que somos por
graça de Deus. E em Deus todos somos dignos e preciosos.
Sugestões para a meditação
§ Situe-se no templo, como quem foi rezar com o fariseu e o
publicano, e observe a postura e as palavras de cada um
§ Com qual deles você se parece quando reza? Você se apresenta
diante de Deus ostentando seus méritos?
§ Você considera a humildade uma limitação à sua personalidade
e o orgulho e o mérito uma expressão de sua grandeza?
§ Como assumir com serenidade e verdade diante de Deus a nossa
condição de pecadores e devedor necessitados de misericórdia? 
 
 
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