Quem comunga incomoda
e torna-se um perigo 
875 | 23 de outubro
de 2025 | Lucas 12,49-53
No trecho do evangelho de
ontem, fomos advertidos por Jesus para que não aconteça que, mesmo conhecendo a
vontade de Deus, vivamos “na sombra e água fresca”, não preparemos nada e nos
comportemos como chefes violentos e sem compromisso, prontos a beber, dominar
com violência e discriminar. O foco do trecho de hoje é outro, mas a tensão
para a construção do Reino de Deus e o tom de urgência continuam. Esperamos o
Reino de Deus articulando a paz com a justiça.
A imagem à qual Jesus
recorre, assim como sua primeira afirmação, assustam, especialmente a quem quer
reduzir a proposta de Jesus a um inocente “paz e amor”. Ele diz claramente que
não vem trazer paz, e sim divisão; que não vem apagar os incêndios da ira, mas
espalhar o fogo. E mais ainda: ele espera que seus discípulos e discípulas
façam o mesmo! Como entender corretamente estas palavras de Jesus? Elas fazem
sentido? Os anjos não cantaram “paz na terra” quando ele nasceu? Ele não é o
príncipe da paz, sonhado pelo profeta Isaías?
Na perspectiva de Jesus, a
paz que todos desejamos é fruto do abraço com a justiça, resultado de uma
escolha difícil e exigente que precisamos refazer todos os dias. Não há paz que
mereça este nome fora do âmbito da justiça do reino de Deus. E essa justiça se
mostra na compaixão solidária e ativa com as vítimas, com todas as categorias
de pessoas excluídas e marginalizadas. A paz não pode ser fruto da
contemporização com o mal e com a injustiça.
Jesus diz que veio lançar
fogo na terra, porque o fogo do Espírito, experimentado por ele no batismo e
manifestado na fidelidade até à cruz, revela, distingue e purifica nossas
intenções e projetos pessoais e sociais. Este Espírito é o dom de si mesmo,
feito de uma vez por todas no alto do Calvário, dom esse que inunda o mundo
qual enxurrada, que espalha um fogo que acende mil outros focos de incêndio.
As
várias manifestações da divisão das quais fala Jesus no evangelho de hoje não
são frutos de um desejo doentio ou violento, de uma mentalidade sectária e
litigiosa, mas consequências de um posicionamento lúcido e firme contra a ordem
e os hábitos dominantes. Nossa lealdade com a novidade e a justiça do Reino de
Deus está acima dos laços familiares e pode até provocar cisão e
distanciamento.
Sugestões para a meditação
§ Retome e
reconstrua o fato, a parábola e a conclusão de Jesus, deixando que as imagens e
palavras ressoem em você
§ Acolha as
palavras incisivas de Jesus, sem deixar-se assustar por elas, mas também sem esvaziá-las
de sua natural urgência
§ Como você
vem tentando proporcionar o encontro entre a justiça e a paz, entre o amor e a
fidelidade ao Evangelho?
§ Recorde
situações em que, por fidelidade a Jesus e seu Evangelho, você provocou tensões
nos círculos mais próximos
 
 
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