Mateus 1,1-17: José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus...
A genealogia apresentada por Mateus está centrada em Jesus Cristo e se propõe a mostrar que Jesus é o Messias esperado, o descendente prometido a Davi. Segundo Mateus, Ele realiza todas as promessas de Deus e, por isso, é o princípio de uma nova história. Ele é o filho de Davi e o filho de Abraão. A raiz e o fundamento do dinamismo da nova história ou reino de Deus é a própria ação de Deus, que já se manifestara nas quatro mulheres nomeadas na genealogia: é graça sem fronteiras. O filho de Davi é portador da força messiânica do reino de Deus e inaugura a realeza dos pobres e oprimidos.
A genealogia está desenvolvida com esta finalidade e, por isso, Mateus organiza artificialmente alguns dados. Na primeira das três partes, o que surpreende é a presença de quatro mulheres, fato nada comum nas genealogias, centradas como são na continuidade paterna. Além disso, Tamar, Raab e "aquela que foi mulher de Urias" (v. 6) são mulheres estrangeiras (Tamar é Cananéia; Rute é moabita; Betsaba é hitita), impuras ou pecadoras. Essas mulheres marginalizadas são importantes e são escolhidas por que o dinamismo do reino inaugurado em Jesus eleva os humilhados e não exclui ninguém.
No v. 16, Mateus não diz ‘Jacó gerou José, José gerou Jesus’, tal como era de se esperar, em conformidade com o estilo do texto, mas “Jacó foi o pai de José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Messias”. A alteração não é um simples descuido ou algo inconsciente. Jesus é apresentado como radicalmente inserido na criação e na humanidade precedente, mas a ultrapassa e renova. A mudança de expressão e o objetivo são muito claros. Mateus quer apresentar o nascimento virginal de Jesus e sua filiação divina.
Com esta perícope, o evangelista pretende afirmar as raízes davídicas e a messianidade de Jesus Cristo: como filho de Davi, Jesus é o legítimo herdeiro das promessas messiânicas e a coroa da história judaica rememorada na genealogia. Mateus dá a entender que Deus quis que Jesus fosse herdeiro do antigo e inaugurador do novo: herdeiro porque nascido da família abraâmica e davídica de José, e inaugurador porque nascido mediante uma intervenção prodigiosa do Espírito. Como filho de Abraão, Jesus é portador da bênção de Deus para todos os homens.
Neste texto temos a primeira referência à Sagrada Família, em Mateus. A perícope termina evidenciando que há uma família formada por Maria e José; que há um filho, cujo nome é Jesus. É uma família humana, profundamente, enlaçada e solidária com as demais famílias humanas, mas a origem de Jesus Cristo mergulha em Deus, e é isso que faz dela uma família sagrada. É uma família vinculada às esperanças messiânicas dos pequenos de Javé, estas expressas no messianismo davídico. É uma família que incluiu em seu seio antepassados considerados inferiores e não honrados, como Raab, Tamar e a bersabéia.
Itacir Brassiani msf
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