Construamos a Paz
mediante a Justiça e a não violência!
Celebramos
o início de um novo ano à luz do mistério do Natal. Nascido e acolhido também
por nós e no meio de nós, Jesus de Nazaré pacifica o mundo estabelecendo relações
novas, livres do vírus da violência e baseadas na justiça. Deus cumpre suas
promessas e realiza as esperanças humanas através de Maria e através de cada um
de nós, dos homens e mulheres de boa vontade, dos líderes autênticos e das
organizações que não se resignam à Paz aparente, baseada no equilíbrio de forças
ou no terrorismo estatal, e assumem, com intrepidez e criatividade, numa
atitude radicalmente não-violenta.
Na
passagem de ano, o autêntico espírito do Natal deve perdurar e prosseguir em
nossas comunidades, e a liturgia continua nos convidando a penetrar mais
profundamente o mistério da encarnação. Hoje, contemplamos a chegada dos
pastores à gruta Belém. Lá eles encontram Jesus no seio de uma família pobre e
migrante, ficam vivamente impressionados com o que lhes é dado ver e comparam
tudo com aquilo que tinham ouvido. Como pode uma criatura tão frágil ser
portadora da Paz a todos os homens e mulheres de boa vontade? Esta é a pergunta
dos pastores, de Maria e de José, e também a nossa!
Ao ser
apresentado no templo e circuncidado, Jesus recebe o nome proposto pelo Anjo a
Maria no anúncio-convite. Ele se chama Jesus, ‘boa notícia da salvação’, pois
Deus salva seu povo do pecado. De fato, ele agirá libertando, perdoando. Nele a
humanidade se descobre livre do débito que tinha consigo mesma por não
conseguir realizar a utopia que faz arder seu coração. Em Jesus, todos estamos
livres do peso de termos ficado aquém ou errado o alvo (pois é isso que
significa ‘pecado’). Deus não espera que cheguemos heroicamente a ele: Ele
mesmo vem decididamente ao nosso encontro. Ele é nossa Paz!
Mas a Paz
que Jesus nos alcança não está unicamente no fim do caminho, na plena
confraternização entre lobos e cordeiros, serpentes e crianças. A Paz autêntica
está no caminho, na caminhada, nos caminhantes. Está nas pessoas inconformadas
que ousam mudar, renovar, começar de novo, cortar pela raiz as atitudes de
violência, e isso cada dia, e não apenas no início do ano. Está nos homens e
mulheres que adquiriram a sabedoria que ajuda a ver nas sementes as flores e os
frutos que virão depois, que encarnam nas relações cotidianas os sonhos e
utopias que, literalmente, parecem não ter um lugar.
Para os
cristãos, o fundamento da Paz é a relação com Jesus Cristo. Nascido de mulher e
sob a violência feita lei, Jesus conduz todas as pessoas à liberdade, começando
pelas que são jogadas à margem. Ele confirma que Deus reconhece todos como
filhos e filhas, e nos convida a superar as relações viciadas pelo medo, pela
escravidão e pela violência. Todos estão em Paz com Deus e podem proclamar “meu
Papai querido!” E, na medida em que
somos filhos e filhas, somos também herdeiros do Reino de Deus, da “shalom” que
possibilita o convívio sadio que tem a justiça como base.
Na sua mensagem para o dia de hoje, o Papa
Francisco lembra que o século passado “foi arrasado por duas guerras mundiais
devastadoras, conheceu a ameaça da guerra nuclear e um grande número de outros
conflitos”, enquanto que hoje vivemos “uma terrível guerra mundial aos
pedaços”: as violências são perpetradas “de maneiras diferentes e a variados níveis,
provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em diferentes
países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques imprevisíveis; abusos
contra os migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental...”
Perante esta
realidade, o Papa lembra que a resposta de Cristo e dos cristãos é radicalmente positiva e
visceralmente não-violenta. Jesus pregou incansavelmente o amor incondicional
de Deus, que acolhe e perdoa, e ensinou os seus discípulos a amar os inimigos e
a oferecer a outra face. Quando impediu que os acusadores apedrejassem a mulher
adultera, e quando, na noite antes de ser preso, pediu a Pedro para repor a
espada na bainha, Jesus traçou o caminho da não-violência que Ele mesmo percorreu
até ao fim, tendo assim estabelecido a Paz e destruído a hostilidade. E isso evidentemente
não tem nada de passividade, e muito de paixão pela Justiça e pela Paz! Este é
o caminho cristão para um Ano Novo!
Deus querido, Pai e Mãe! Neste dia em que começamos um
novo ano, te pedimos: ensina-nos a compreender o anseio de Paz e de comunhão
que pulsa no coração do mundo, e transforma-nos em artífices da Paz. Ajuda-nos
a destruir pela raiz toda atitude violenta e a lutar contra as injustiças que
continuam sendo perpetradas contra teu povo mais pobre e sofredor. Suscita em
nós o canto que brota da dignidade indestrutível de filhos e filhas, e dá-nos a
graça de experimentar, como Maria, José e com os pastores, a alegria de
reconhecer a grandeza de Deus na fragilidade humana. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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