quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

ANO A – SOLENIDADE DA SANTA ME DE DEUS, MARIA – 01.01.2017

Construamos a Paz mediante a Justiça e a não violência!

Celebramos o início de um novo ano à luz do mistério do Natal. Nascido e acolhido também por nós e no meio de nós, Jesus de Nazaré pacifica o mundo estabelecendo relações novas, livres do vírus da violência e baseadas na justiça. Deus cumpre suas promessas e realiza as esperanças humanas através de Maria e através de cada um de nós, dos homens e mulheres de boa vontade, dos líderes autênticos e das organizações que não se resignam à Paz aparente, baseada no equilíbrio de forças ou no terrorismo estatal, e assumem, com intrepidez e criatividade, numa atitude radicalmente não-violenta.
Na passagem de ano, o autêntico espírito do Natal deve perdurar e prosseguir em nossas comunidades, e a liturgia continua nos convidando a penetrar mais profundamente o mistério da encarnação. Hoje, contemplamos a chegada dos pastores à gruta Belém. Lá eles encontram Jesus no seio de uma família pobre e migrante, ficam vivamente impressionados com o que lhes é dado ver e comparam tudo com aquilo que tinham ouvido. Como pode uma criatura tão frágil ser portadora da Paz a todos os homens e mulheres de boa vontade? Esta é a pergunta dos pastores, de Maria e de José, e também a nossa!
Ao ser apresentado no templo e circuncidado, Jesus recebe o nome proposto pelo Anjo a Maria no anúncio-convite. Ele se chama Jesus, ‘boa notícia da salvação’, pois Deus salva seu povo do pecado. De fato, ele agirá libertando, perdoando. Nele a humanidade se descobre livre do débito que tinha consigo mesma por não conseguir realizar a utopia que faz arder seu coração. Em Jesus, todos estamos livres do peso de termos ficado aquém ou errado o alvo (pois é isso que significa ‘pecado’). Deus não espera que cheguemos heroicamente a ele: Ele mesmo vem decididamente ao nosso encontro. Ele é nossa Paz!
Mas a Paz que Jesus nos alcança não está unicamente no fim do caminho, na plena confraternização entre lobos e cordeiros, serpentes e crianças. A Paz autêntica está no caminho, na caminhada, nos caminhantes. Está nas pessoas inconformadas que ousam mudar, renovar, começar de novo, cortar pela raiz as atitudes de violência, e isso cada dia, e não apenas no início do ano. Está nos homens e mulheres que adquiriram a sabedoria que ajuda a ver nas sementes as flores e os frutos que virão depois, que encarnam nas relações cotidianas os sonhos e utopias que, literalmente, parecem não ter um lugar.
Para os cristãos, o fundamento da Paz é a relação com Jesus Cristo. Nascido de mulher e sob a violência feita lei, Jesus conduz todas as pessoas à liberdade, começando pelas que são jogadas à margem. Ele confirma que Deus reconhece todos como filhos e filhas, e nos convida a superar as relações viciadas pelo medo, pela escravidão e pela violência. Todos estão em Paz com Deus e podem proclamar “meu Papai querido!”  E, na medida em que somos filhos e filhas, somos também herdeiros do Reino de Deus, da “shalom” que possibilita o convívio sadio que tem a justiça como base.
Na sua mensagem para o dia de hoje, o Papa Francisco lembra que o século passado “foi arrasado por duas guerras mundiais devastadoras, conheceu a ameaça da guerra nuclear e um grande número de outros conflitos”, enquanto que hoje vivemos “uma terrível guerra mundial aos pedaços”:  as violências são perpetradas “de maneiras diferentes e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques imprevisíveis; abusos contra os migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental...”
Perante esta realidade, o Papa lembra que a resposta de Cristo e dos cristãos é radicalmente positiva e visceralmente não-violenta. Jesus pregou incansavelmente o amor incondicional de Deus, que acolhe e perdoa, e ensinou os seus discípulos a amar os inimigos e a oferecer a outra face. Quando impediu que os acusadores apedrejassem a mulher adultera, e quando, na noite antes de ser preso, pediu a Pedro para repor a espada na bainha, Jesus traçou o caminho da não-violência que Ele mesmo percorreu até ao fim, tendo assim estabelecido a Paz e destruído a hostilidade. E isso evidentemente não tem nada de passividade, e muito de paixão pela Justiça e pela Paz! Este é o caminho cristão para um Ano Novo!
Deus querido, Pai e Mãe! Neste dia em que começamos um novo ano, te pedimos: ensina-nos a compreender o anseio de Paz e de comunhão que pulsa no coração do mundo, e transforma-nos em artífices da Paz. Ajuda-nos a destruir pela raiz toda atitude violenta e a lutar contra as injustiças que continuam sendo perpetradas contra teu povo mais pobre e sofredor. Suscita em nós o canto que brota da dignidade indestrutível de filhos e filhas, e dá-nos a graça de experimentar, como Maria, José e com os pastores, a alegria de reconhecer a grandeza de Deus na fragilidade humana. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Livro dos Números 6,22-27 * Salmo 66 (67) * Carta aos Galatas 4,4-7 * Evangelho de S. Lucas 2,16-21)

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