terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Uma prece natalina (4)

Senhor, não sei bem o que será viver só de luz.
Estou tão habituado a coisas que acabam, ao dia e à noite, aos prazos breves de duração...
Vou aceitando como inevitáveis sombras, silêncios, capacidades...
E, contudo, hoje o que te peço é que me ajudes a não desistir da luz.
Não quero, Senhor, recolher apenas, em uma caixa, as figuras do presépio,
como se fosse figuras de um teatro anual que monto para a minha consciência.
Não consigo arrumar numa gaveta as palavras que o Natal me deixou...
           
(José Tolentino Mendonça, Um Deus que dança, p. 62)

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