sábado, 24 de dezembro de 2016

Uma prece natalina (1)

Senhor, eis-nos à espera.
No fundo das nossas correrias, no coração destes dias agitados,
que nos dividem literalmente ao meio,
entre mil pequenas tarefas e mil pequenos pensamentos, 
há um silêncio que soletra o teu nome.
No fundo de nós sabemos que só um Deus nos pode salvar.
Pode até aparecer, no meio de tanto ruído, que te dispensamos.
Pode até acontecer que não tenhamos a força dos verdadeiros gestos de Natal.
Mas eis-nos à espera.
Acredita que, por vezes, enquanto trocamos cartões, augúrios, presentes, 
há um momento em que as nossas mãos ficam vazias, 
fixas no ar, como se rezassem.
É quando te pedimos que faças brilhar em nós a estrela luminosa do teu Natal.


(José Tolentino Mendonça, Um Deus que dança, p. 60)

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