A boa nova do Natal
Na cultura da maioria das pessoas, Natal
evoca presentes que recebemos e damos a parentes e amigos. Para outros, as
festas do Natal significam aconchego familiar e dias de férias. Para as mães de
família, Natal requer uma ceia especial com muitas comidas e bebidas. Fazer
festa e reunir as pessoas queridas é sempre bom. Se o Natal serve para isso,
tem uma boa função. No entanto, no mundo atual, se queremos ser mais justos com
a Terra e a natureza, temos de rever o consumismo e organizar um modo de viver
mais sóbrio e centrado em coisas mais essenciais. Se você quiser ir além da agitação
que envolve esses dias, lembre-se que, no plano mais profundo, Natal
significa renascimento.
Embora ninguém saiba a data exata do
nascimento de Jesus, desde o século IV, os cristãos tomaram o 25 de dezembro,
solstício do inverno no hemisfério norte, para celebrar a vinda de Jesus Cristo
ao mundo, como o sol que ilumina e dá sentido novo a nossas vidas. Por celebrar
o ciclo solar, o Natal é mais a celebração de um renascimento do que simples
memória de um aniversário. Aliás, o que significaria nascer, se não fosse para
estar abertos a um constante renascer? O poeta Pablo Neruda afirmava: “Nascemos
como esboço. É preciso sempre renascer. Nascemos para renascer”.
De um modo ou de outro, todos os caminhos espirituais se
propõem a ajudar as pessoas a viverem esse processo de transformação pessoal e
comunitário. O Evangelho chama de metanoia,
mudança de mente. O Budismo denomina de iluminação. Espiritualidades indígenas
falam em despertar. Podemos dizer que renascemos cada vez que realizamos os
passos que a vida exige e nos abrimos para uma nova etapa. Em cada idade
física, o ser humano larga uma idade e renasce para outra. Em uma conversa com
Nicodemos, Jesus explica: “O que nasce conforme o mundo (ou no modo de falar
hebraico: o que nasce da carne) é carne, ou seja, pertence a esse modo de ser
do mundo. O que nasce do Espírito, é espírito. Por isso, insisto, é preciso
nascer de novo, nascer do Espírito” (Jo 3, 7).
O sentido mais profundo da celebração do
Natal é abrir nossos corações e nossas vidas para essa perspectiva de uma vida
nova, tanto no plano pessoal
como de nossas relações e atividades sociais e até políticas. Viver o espírito
do Natal é não apenas recordar Belém e o presépio no qual Jesus recém-nascido
está rodeado de seus pais e é visitado pelos pobres pastores do campo.
O espírito do Natal é a mística da inserção.
Significa assumir a realidade em que vivemos e retomar nossas relações com as
pessoas mais de base em uma linha de caminharmos juntos e de recomeçarmos o que nos anos 70
chamávamos "a Igreja que nasce do povo pela força do Espírito".
Por falar em Igreja, estamos voltando ao
sentido original do termo. É a assembleia dos cidadãos e cidadãs do reino de
Deus, cristãos ou não, gente de frequência eclesial ou não...
A mística do Natal é o encontro com uma
Política que se faz sagrada porque é libertadora e não tem vergonha nem medo de
ser transformadora e até revolucionária. Como diziam os bispos latino-americanos na sua conferência em Medellín
(1968): "Queremos construir uma Igreja libertadora de toda a humanidade e
de cada ser humano por inteiro, em todas as suas dimensões" (Med. 5, 15).
O fato de que, no Natal, Jesus assumiu a
condição humana com todas as suas fragilidades e problemas, faz com que as
pessoas que creem sempre descubram razões para esperar e sempre, de
novo, retomem a opção transformadora de um novo mundo possível. Essa
opção exige uma profunda consciência crítica com relação ao modo de pensar da
sociedade dominante e a decisão de manter, custe o que custar, nossa capacidade
de amar, a disponibilidade ao diálogo e a sermos pessoas de coração terno e
afável, sempre e cada vez mais humanos, como Jesus.
Marcelo Barros
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