segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

ANO A – SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA – 08.12.2016

Imaculada Conceição de Maria: 
a formosura da pessoa que crê.

Em meio à caminhada do Advento, a festa da Imaculada Conceição de Maria vem nos lembrar que a humildade, a escuta e a fé na ação misericordiosa de Deus são atitudes que levam seguramente a uma vida feliz. O segredo da felicidade não está na posse ou no consumo de bens especiais, nem na fama ou no sucesso que podemos alcançar ou no poder de atração que exercemos, mas na abertura humilde e profunda aos outros, ao futuro e a Deus. O fechamento orgulhoso em nós mesmos e o apego doentio ao presente não são caminhos de crescimento, mas sinais de que a pessoa e a sociedade estão doentes.
Lucas nos apresenta Maria como uma mulher que sabe ouvir a Palavra viva de Deus, uma mulher pronta a dar o melhor de si para que essa Palavra se realize na história e nela mesma. Isabel proclama que Maria é alguém que ousou acreditar na força da Palavra e na fidelidade daquele que a pronuncia. Obviamente, não se trata de uma palavra escrita na Bíblia, mas de uma mensagem discretamente eloquente, escrita nos acontecimentos. Mas, no belo poema atribuído a Maria e conhecido como Magnificat, a mãe de Jesus e nossa aparece também como uma pessoa humilde e humilhada, como o foi historicamente seu povo.
A humildade e a fé estão intrinsecamente relacionadas e são as marcas fundamentais da personalidade e do itinerário espiritual de Maria. Se Deus pôde realizar grandes coisas nela e através dela é porque encontrou a indispensável base humana já preparada. Por isso, não fazemos bem quando idealizamos e espiritualizamos Maria, pois corremos o risco de desumanizá-la completamente, tirando-a da história. Para fazer-se humano, o Filho de Deus precisa de pessoas fundamentalmente humanas, e não de criaturas angélicas! E Maria de Nazaré ‘vai com as outras’, sente-se bem entre as demais mulheres!
O Evangelho diz que, depois da profunda experiência de ser amada e convocada a dar à luz Aquele que é a Luz do mundo, Maria vai apressadamente à casa de Isabel. Lá nas montanhas da Judeia, na casa de uma mulher humilhada por ser idosa e estéril, Maria busca um sinal que possa confirmar a parceria de Deus com os humildes e sua aliança com os pobres. Ela já havia dado sua palavra Àquele que é capaz de fazer grandes coisas em favor dos humildes, mas nem tudo estava claro. A discípula se faz serva, a serva se mostra peregrina, e a peregrina sai em busca de hospitalidade e discernimento na casa de Isabel.
Naquela casa escondida entre as montanhas e vales que circundam Jerusalém, enquanto Zacarias permanece mudo e à margem de tudo, Maria e Isabel louvam a Deus e profetizam. A discípula, serva e peregrina se transforma em profetiza destemida. Contemplando sua própria história e a epopeia do seu povo, Maria percebe e proclama a intervenção libertadora de Deus: ele dispersa os soberbos, derruba os poderosos, dispensa os saciados, eleva os humildes e oprimidos, socorre seu povo e estende sua misericórdia a todas as gerações. Eis o poder do seu braço: Ele vem em socorro dos desvalidos!
Neste encontro entre Maria e Isabel, celebrado às margens do poder e da badalação, o corpo humano festeja e é festejado. É bendito o corpo feminino de Maria, assim como bendito é o corpo indefeso que ela carrega no ventre. Bendito é o corpo de Isabel, capaz de perceber a incontida alegria daquele que preparará a estrada para a chegada do Messias, e bendito é o corpo dos mártires de todos os tempos. Bendito é também o corpo dos humilhados e dispensados pelos sistemas fechados, mas desde sempre destinados por Deus ao brilho e à beleza. Duas mulheres abraçadas cantam e dançam a ciranda da Vida que, em sua sutileza, foge do controle dos prepotentes e não toma conhecimento dos obstáculos...
A festa da Assunção de Maria sublinha de forma contundente a dignidade do corpo, de todos os corpos. Mas é também uma especial proclamação da dignidade dos corpos humilhados por uma cultura que os transforma em meios de produção, em objetos que podem ser vendidos e comprados, em produtos expostos nas vitrines e passarelas, sem brilho e sem beleza. É o reconhecimento da formosura dos corpos dinamizados pela fé, e, enfim, o anúncio da formosura e da nobreza dos corpos doentes e envelhecidos pelo tempo, assim como do corpo eclesial dos muitos e diferentes membros.
Maria de Nazaré, de Belém e de Jerusalém! Tu és mulher, mãe e companheira em todos os caminhos e aventuras que geram e dão à luz mundos, homens e mulheres novos. Acompanha-nos neste tempo de preparação para o Natal do teu filho, ensinando-nos a sonhar caminhos que nos levem a mudanças realmente profundas. Ajuda-nos a perceber que arranjos externos e mudanças de fachada apenas enganam e prejudicam o dinamismo de reconciliação que teu filho nos confiou como herança e missão. E protege o povo brasileiro do crime que o Presidente e o Congresso estão tramando. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Livro do Gênesis 3,9-15.20 * Salmo 97 (98) * Carta aos Efésios 1,3-12 * Evangelho de Lucas 1,26-38)

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