Imaculada
Conceição de Maria:
a
formosura da pessoa que crê.
Em
meio à caminhada do Advento, a festa da Imaculada
Conceição de Maria vem nos lembrar que a humildade, a escuta e a fé na ação
misericordiosa de Deus são atitudes que levam seguramente a uma vida feliz. O
segredo da felicidade não está na posse ou no consumo de bens especiais, nem na
fama ou no sucesso que podemos alcançar ou no poder de atração que exercemos,
mas na abertura humilde e profunda aos outros, ao futuro e a Deus. O fechamento
orgulhoso em nós mesmos e o apego doentio ao presente não são caminhos de
crescimento, mas sinais de que a pessoa e a sociedade estão doentes.
Lucas
nos apresenta Maria como uma mulher que sabe ouvir a Palavra viva de Deus, uma
mulher pronta a dar o melhor de si para que essa Palavra se realize na história
e nela mesma. Isabel proclama que Maria é alguém que ousou acreditar na força
da Palavra e na fidelidade daquele que a pronuncia. Obviamente, não se trata de
uma palavra escrita na Bíblia, mas de uma mensagem discretamente eloquente,
escrita nos acontecimentos. Mas, no belo poema atribuído a Maria e conhecido
como Magnificat, a mãe de Jesus e
nossa aparece também como uma pessoa humilde e humilhada, como o foi
historicamente seu povo.
A
humildade e a fé estão intrinsecamente relacionadas e são as marcas
fundamentais da personalidade e do itinerário espiritual de Maria. Se Deus pôde
realizar grandes coisas nela e através dela é porque encontrou a indispensável base
humana já preparada. Por isso, não fazemos bem quando idealizamos e
espiritualizamos Maria, pois corremos o risco de desumanizá-la completamente,
tirando-a da história. Para fazer-se humano, o Filho de Deus precisa de pessoas
fundamentalmente humanas, e não de criaturas angélicas! E Maria de Nazaré ‘vai
com as outras’, sente-se bem entre as demais mulheres!
O
Evangelho diz que, depois da profunda experiência de ser amada e convocada a
dar à luz Aquele que é a Luz do mundo, Maria vai apressadamente à casa de
Isabel. Lá nas montanhas da Judeia, na casa de uma mulher humilhada por ser
idosa e estéril, Maria busca um sinal que possa confirmar a parceria de Deus
com os humildes e sua aliança com os pobres. Ela já havia dado sua palavra
Àquele que é capaz de fazer grandes coisas em favor dos humildes, mas nem tudo
estava claro. A discípula se faz serva, a serva se mostra peregrina, e a
peregrina sai em busca de hospitalidade e discernimento na casa de Isabel.
Naquela
casa escondida entre as montanhas e vales que circundam Jerusalém, enquanto
Zacarias permanece mudo e à margem de tudo, Maria e Isabel louvam a Deus e
profetizam. A discípula, serva e peregrina se transforma em profetiza
destemida. Contemplando sua própria história e a epopeia do seu povo, Maria
percebe e proclama a intervenção libertadora de Deus: ele dispersa os soberbos,
derruba os poderosos, dispensa os saciados, eleva os humildes e oprimidos,
socorre seu povo e estende sua misericórdia a todas as gerações. Eis o poder do
seu braço: Ele vem em socorro dos desvalidos!
Neste
encontro entre Maria e Isabel, celebrado às margens do poder e da badalação, o
corpo humano festeja e é festejado. É bendito o corpo feminino de Maria, assim
como bendito é o corpo indefeso que ela carrega no ventre. Bendito é o corpo de
Isabel, capaz de perceber a incontida alegria daquele que preparará a estrada
para a chegada do Messias, e bendito é o corpo dos mártires de todos os tempos.
Bendito é também o corpo dos humilhados e dispensados pelos sistemas fechados,
mas desde sempre destinados por Deus ao brilho e à beleza. Duas mulheres
abraçadas cantam e dançam a ciranda da Vida que, em sua sutileza, foge do
controle dos prepotentes e não toma conhecimento dos obstáculos...
A
festa da Assunção de Maria sublinha de forma contundente a dignidade do corpo,
de todos os corpos. Mas é também uma especial proclamação da dignidade dos
corpos humilhados por uma cultura que os transforma em meios de produção, em objetos
que podem ser vendidos e comprados, em produtos expostos nas vitrines e
passarelas, sem brilho e sem beleza. É o reconhecimento da formosura dos corpos
dinamizados pela fé, e, enfim, o anúncio da formosura e da nobreza dos corpos
doentes e envelhecidos pelo tempo, assim como do corpo eclesial dos muitos e
diferentes membros.
Maria de Nazaré, de Belém e de Jerusalém! Tu és mulher,
mãe e companheira em todos os caminhos e aventuras que geram e dão à luz
mundos, homens e mulheres novos. Acompanha-nos neste tempo de preparação para o
Natal do teu filho, ensinando-nos a sonhar caminhos que nos levem a mudanças realmente
profundas. Ajuda-nos a perceber que arranjos externos e mudanças de fachada
apenas enganam e prejudicam o dinamismo de reconciliação que teu filho nos
confiou como herança e missão. E protege o povo brasileiro do crime que o
Presidente e o Congresso estão tramando. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
(Livro do Gênesis 3,9-15.20 * Salmo 97 (98) * Carta aos
Efésios 1,3-12 * Evangelho de Lucas 1,26-38)
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