segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Uma prece natalina (3)

“Nós reduzimos o Natal a uma festa do tubo digestivo”.
Li esta frase num dos últimos artigos assinados por Victor Cunha Rego,
e desde ai, se penso nela,
acho que a alma me fica doendo por muito tempo,
embrulhada numa daquelas desolações que só tu entendes.
Ponho-me a pensar em nos, “tão pobre que somos”,
a tentar esconder isso – feridas, fragilidades, interrogações, limites... –
debaixo da toalha de uma abundância ofuscante,
feita de caprichos, embrulhos e confeitaria.
Quando tu, Senhor, nos vens precisamente dizer 
que não tenhamos medo do essencial...


(José Tolentino Mendonça, Um Deus que dança, p. 63)

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