terça-feira, 10 de dezembro de 2019

ANO A | TEMPO DE ADVENTO | 3° DOMINGO – 15.12.2019


Feliz de quem não se escandaliza com um Deus frágil e compassivo!
No terceiro domingo da caminhada ao encontro do Deus que vem, a santa Palavra nos pede firmeza e nos convoca à alegria. São Tiago insiste: “Ficai firmes até a vinda do Senhor... Ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima!” Trata-se de esperar com fervor e de celebrar com júbilo os pequenos, sutis e promissores sinais de vida e de mudança escondidos nas franjas da história, nos clamores dos pobres e nas feridas dos místicos e dos profetas. E isso significa também não se escandalizar com as demoras de Deus e com os meios frágeis que ele escolhe para se manifestar.
A crise e o escândalo diante dos sinais frágeis e aparentemente impotentes de Deus se aninhou até no coração do profeta João Batista e dos discípulos de Jesus. Na prisão, o Profeta que batizava recebe notícias sobre a ação missionária de Jesus de Nazaré, daquele sobre quem ele vira descer o Espírito de Deus e de quem esperava ações cortantes como a do machado na raiz das arvores estéreis e a do fogo na palha que não frutificou. Mas o Profeta do rio Jordão só ouvia falar de perdão, acolhida e compaixão solidárias. Seria esse o Messias prometido pelos profetas e esperado ansiosamente pelo povo, ou a espera deveria continuar?
Também nós, quando olhamos para aquilo que já é passado, ou quando voltamos nossa atenção para os frágeis e ambíguos sinais que a Igreja realiza hoje, perguntamo-nos: é essa a comunidade a quem Jesus escolheu e confiou sua missão? É ela Sal da terra e Luz do mundo? E quando contemplamos o mundo, palco de guerras intermináveis, de violências insuportáveis, de rapinas incomparáveis e de dominações injustificáveis, perguntamo-nos onde está a força do fermento e da pequena semente do Reino de Deus, que Jesus anunciou estar próximo e em ação no meio de nós. O que podemos continuar esperando?
São Tiago vem em nosso auxilio, convidando-nos a aprender com os agricultores e com os profetas, que nos apresenta como mestres. Dos agricultores, ele destaca a espera firme e sem desânimo da chuva sazonal que sempre vem, mesmo quando atrasa, e garante os frutos. Dos profetas, ele sublinha a capacidade de assumir o sofrimento por falar com firmeza em nome do Senhor e interpelar o povo à fidelidade à aliança, ou seja: à solidariedade com os estrangeiros, órfãos e viúvas, os grupos sociais mais vulneráveis do tempo deles. Portanto, os profetas são modelos de uma espera ativa, engajada e sempre arriscada.
Jesus responde às dúvidas de João Batista, e de todos aqueles que não escondem a frustração diante dos pequenos sinais que realiza, chamando a atenção para o significado eloquente e para a força transformadora que neles se esconde. Ele nos convida a perceber e alegrarmo-nos com os sinais de resgate da vida dos pobres:  cegos que recuperam a vista, paralíticos que voltam a caminhar, leprosos reinseridos na convivência social, surdos que recuperam a audição, mortos que revivem, e pobres que recebem boas notícias. Isso não é pouco, embora não passe de um sinal daquilo que está por vir! Passemos, pois, do escândalo ao júbilo!
Por fim, Jesus aproveita a ocasião para chamar a atenção dos discípulos para o testemunho profético de João. Sua atitude firme e corajosa levou-o à prisão, o que não deixa de ser sinal de fragilidade. Sua vida e missão foi assim: como um caniço agitado pelo vento, como um homem que se veste modestamente. Um verdadeiro e grande profeta que aceitou ser enviado à frente para preparar caminhos, aceitando desaparecer para que o Esperado se revelasse. Também dele, como dos profetas e profetizas do nosso tempo, aprendemos a permanecer firmes e a sofrer as consequências por cultivarmos Sonhos que a história não consegue dar à luz.
Se alguém nos perguntasse se a Igreja na qual vivemos é a verdadeira ou deveremos esperar outra, nossa resposta deveria poder ser a mesma de Jesus: olhem para aquilo que ela faz! Mas o caminho de conversão da Igreja ainda é longo, pois a Salvação está na exatidão fria da lei, na perfeição impressionante dos ritos, na grandeza material dos templos, no funcionamento das instituições, na obediência servil dos seus ministros. Como não está absolutamente nas medidas e posturas violentas e genocidas de governos que mal conseguem disfarçar a maldade feroz dos seus pacotes, mesmo recorrendo cinicamente ao nome de Deus.
Deus de bondade, que vês o teu povo sofrendo pela ação de governos que lhe dão as costas, impõem pesados fardos e o convoca a pagar contas que não contraiu, ajuda-nos a permanecer firmes, ao lado do povo, a confiar na força dos pequenos e a denunciar o cinismo e a violência dos prepotentes. Tu sabes que este povo espera e prepara com fervor o Natal do Teu Filho. Por isso, concede-lhe também a graça de chegar às alegrias da libertação e de celebrá-la sempre com intenso jubilo e graciosa fraternidade. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf

Profecia de Isaías 35,1-10 | Salmo 145 (146)
Carta de São Tiago 5,7-10 | Evangelho de São Mateus 11,2-11

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