domingo, 22 de dezembro de 2019

ANO A | TEMPO DE NATAL | NASCIMENTO DE JESUS | MISSA DO DIA – 25.12.2019


O Natal nos introduz na lógica da compaixão e da gratuidade.
Na Carta aos Hebreus, a comunidade cristã manifesta sua fé amadurecida em meio a dificuldades internas e questionamentos externos: em Jesus Cristo, na vida que se estende do presépio à cruz e passa pela Galileia, pela Samaria e pela Judéia, Deus falou à humanidade de modo claro e eloquente, mostrou o vulto da misericórdia do Pai e desnudou a força do seu braço aos olhos de todos os povos. Esta palavra Jesus a aprendeu nos porões da humanidade, é o clamor que ele compartilha com os sofredores, mãos abertas e braços ágeis na construção de um mundo no qual haja lugar para todos os seus filhos e filhas.
Por sua vez, na longa e bela meditação com a qual introduz sua versão da boa notícia de Deus, são João nos deixa claro que a vida de Jesus nunca foi nem é uma unanimidade, como pretende ser seu substituto comercial, o Papai Noel. O Verbo de Deus veio como luz no meio das trevas, e as trevas não o dominam mas também não o reconhecem. Ele veio ocupar sua própria casa, mas seus parentes não o acolheram. Ele foi acolhido pelos pastores, mas temido e perseguido por Herodes. O povo cansado e abatido reconheceu nele o filho de Davi, mas os sacerdotes e doutores da lei o renegaram, perseguiram e eliminaram.
João diz, provocativamente, que Jesus nos revela a glória de Deus em sua humana carne. Glória é a ação libertadora de Deus e o respeito que devemos a ele. Ver a glória de Deus significa testemunhar e realizar seus atos de compaixão e libertação em favor das pessoas humilhadas. É exatamente isso que Jesus Cristo nos revela, tanto na sua encarnação como no desenrolar da sua vida, especialmente no alto da cruz. Ele nos revela a dignidade do ser humano e o respeito que lhe devemos. E manifesta também a verdade e a vontade de Deus, que age no ritmo ditado pela compaixão e não conhece limites nem impõe restrições.
Fazendo-se carne e armando sua tenda no coração da história, o Filho manifesta a glória do Pai de uma forma nova, inesperada e inconfundível. Sendo a carne a materialidade e a vulnerabilidade, experiências próprias do ser humano no mundo, a glória que Deus manifesta mediante Jesus é a sua inserção solidária em nossa humana condição. Jesus faz brilhar a glória de Deus esvaziando-se, assumindo a vulnerabilidade da qual sempre queremos fugir, por vergonha ou por medo. Assim, ele revela aquilo que somos realmente: criaturas limitadas e necessitadas do outro, abertas a uma plenitude que nos falta, profundamente amadas por Deus. 
Por isso, o mistério da encarnação que o Natal celebra, não representa uma espécie de acidente ou um parênteses na revelação de Deus, mas seu desejo mais profundo e a meta à qual tende. Este é o primeiro ensinamento de Deus e a boa notícia anunciada pelos passos belos e apressados dos mensageiros visualizados por Isaías. É essa revelação que faz os guardas cantar de alegria e provoca júbilo até nas ruínas da cidade. É isso, e não a figura do “bom velhinho”, que faz um povo cansado e abatido explodir de alegria.
No evento do Natal Deus mostra também, e de modo eloquente, o quanto estima e ama a humanidade e cada ser humano, a começar por Maria, humilhada e desprezada. Deus é profundamente apaixonado pelas suas criaturas, e o que mais deseja é estar com elas. Se por Moisés nós recebemos uma lei que orienta, mas que também pode nos limitar e oprimir, em Jesus Cristo, Deus assegura a graça e a fidelidade ao seu amor gratuito. “De sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça.” Nele, a primazia é dada ao amor; as exigências e mandamentos vêm depois da graça, como resposta, não como pressuposto.
E o Natal atesta também que o amor muda a nossa lógica: a lógica matemática, que analisa tudo como causa ou efeito; a lógica do mérito e da culpa, que interpreta tudo a partir do prêmio e do castigo; a lógica da competição, que se rege pela vontade de vencer e eliminar; a lógica do poder, que valoriza e só tem olhos para os inteligentes, fortes, ricos e virtuosos. Deus ensina que os últimos são os primeiros, que as pessoas que servem são as mais importantes, que as pessoas que se esvaziam por amor estão plenas de glória.
Aqui estamos, Deus amável, ajoelhados e maravilhados diante do que nos dás a conhecer sobre Ti mesmo e sobre nossa dignidade no mistério do Natal. Te agradecemos imensamente porque transformaste nossa frágil carne na Tua amada tenda, na meta final de todos os Teus desejos. Obrigado porque manifestas Tua glória dando-nos dignidade e vida plena! Obrigado porque nos introduzes numa outra lógica, a lógica da compaixão, da colaboração e da graça, que supera a maldita lógica da competição e do mérito! Obrigado por este precioso presente: vieste como visita e decidiste permanecer para sempre conosco! Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 52,7-10 | Salmo 97 (98)
Carta de Paulo aos Hebereus 1,1-6 | Evangelho de São João 1,1-18

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