O Natal de Jesus pede-nos mãos semeadoras de paz!
Nosso tempo de
preparação e espera de Jesus não foi tão longo quanto o do povo de Israel, nem
como o de Maria e José, mas foi suficiente para ajustar a visão, sintonizar os
ouvidos, acertar o passo e abrir o coração para acolher a manifestação de Deus.
Estamos em condições de reconhecê-lo e acolhê-lo quando, onde e como ele quiser
se manifestar. É por isso que, na vigília do Natal, reunimo-nos em comunidade,
e também em família, na expectativa de que o Evangelho de Deus e a
confraternização serena e solidária nos ajude a não passar ao largo da carne e
das circunstâncias nas quais Deus vem a nós.
Na carta que escreve a
Tito e sua comunidade, Paulo anuncia que, em Jesus de Nazaré manifestou-se de
forma inequívoca o bem-querer de Deus por nós. Ele é força de salvação para
todos os seres humanos, não apenas para aqueles que se auto incluem entre as
“pessoas de bem” (ou possuidoras de bens?), e nele temos companhia e apoio,
rumo e força. Ele é o mais belo e maravilhoso presente que poderíamos esperar e
receber de Deus. Mas ele é também lição e um caminho: sua proximidade,
compaixão e solidariedade nos ensinam a renunciar ao egoísmo e a viver com
sobriedade, justiça e piedade.
Naquele abrigo de animais
situado em Belém, na periferia de Jerusalém, a humanidade visualizou um sinal
eloquente e inequívoco do que Deus é e daquilo que Deus quer. Ele é compaixão e
proximidade, paz e júbilo, presença e boa notícia para o povo, para todo o
povo, para todos os povos. Sua glória brilha na carne mais vulnerável de um
bebê filho de migrantes, e nessa vulnerabilidade quebra cangas, rompe algemas e
correntes, queima fardas de guerra e armas que matam. Definitivamente, a paz
que ele traz não é garantida pelas armas nas mãos de todos, mas pelas mãos
postas em oração e pelas mãos dadas em cooperação.
Mas as
luzes coloridas que enfeitam o Natal e a harmonia das canções deste tempo não
podem nos levar esquecer a Paixão e a Páscoa de Jesus, pois este é o mistério
que dá sentido ao que acontece na gruta de Belém. É do calvário e da cruz que
nos vem a luz que ilumina o que acontece na estrebaria. A Palavra que se faz
carne em Belém se faz cruz em Jerusalém. Na cruz, o Verbo emudece, torna-se silêncio, porque se diz até calar,
se pronuncia e se entrega inteiramente, nada retendo do que nos devia
comunicar.
Esta
ligação entre a gruta e o calvário, entre a estrela e a cruz, não apaga nem
diminui a alegria benfazeja das festas natalinas. Ao contrário, radicaliza e
concretiza as razões da nossa alegria e da nossa confiança. Contemplando a
cruz, entendemos que a paz cantada pelos anjos na escura noite dos pastores não
é fantasia adocicada pela indiferença. As mulheres corajosas e fiéis, presentes
na colina do Calvário aos pés do Condenado, ampliam e concretizam a acolhida
que os pastores e magos dispensam ao Verbo feito carne.
Celebremos, pois, o
Natal à luz da Páscoa. Agarrados aos seus “podres poderes”, Quirino, César
Augusto e Herodes, como os golpistas e falsos messias que ocupam palácios e
planaltos e cobram a conta de quem já paga demais, nem se dão conta do que está
acontecendo em Belém, ou festejam a pena de morte executada no Calvário. Mas os
humildes e humilhados que andam nas trevas, os homens e mulheres de boa vontade,
veem uma grande luz e se rejubilam como nas colheitas abundantes ou nas lutas
bem-sucedidas.
Na gruta cavada nas
rochas de Belém e na cruz cravada nas rochas de Jerusalém, Deus se faz boa
notícia encorajadora e paz duradoura. Nenhum traço de onipotência. Nenhum sinal
de onisciência. Nenhum resquício de impassibilidade. Na manjedoura e na cruz,
Deus se faz impotência para empoderar os fracos, misericórdia para reerguer os
pecadores, fragilidade para afagar todos os que experimentam cansaço e
abatimento. Deus é grande porque se abaixa e desce à base da pirâmide social,
vai às periferias.
No Menino da
estrebaria, no Profeta crucificado e nas comunidades que nascem e se reúnem ao
redor dele, Deus quebra a canga que os opressores impõem aos mais fracos, em
nome da retomada do crescimento, e joga no fogo da inutilidade as fardas e
botas dos soldados que servem aos dominadores. E anuncia com força: “Não
temais! Eis que eu vos anuncio uma boa notícia para todo o povo: hoje nasceu
para vós um salvador!”
Deus Menino!
No teu rosto vemos brilhar a humana amizade, a verdadeira filantropia de Deus.
Da acolhida que encontraste em Maria e José e da atenção que recebeste dos
pastores aprendemos a hospitalidade que salva. Escutando os anjos, aprendemos
que a paz não é algo que nos espera depois da morte, mas mistério e dom já
presente na terra, entre os homens e mulheres teus amados. Amado Menino,
Príncipe da paz, faz que sejamos intrépidos construtores desta paz amada porque
desarmada! Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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