VOLTAR A BELEM
No
meio de felicitações e presentes, entre jantares e agitação, quase oculto por
luzes, árvores e estrelas, é possível ainda vislumbrar no centro das festas de
Natal «um menino deitado na manjedoura». O mesmo acontece no relato de Belém. Há luzes, anjos e canções, mas o coração
dessa grandiosa cena é ocupada por um menino numa manjedoura.
O
evangelista narra o nascimento do Messias com uma sobriedade surpreendente.
Maria «chegou a hora do nascimento e deu à luz o Seu filho». Nem uma palavra
mais. O que realmente parece-lhe
interessar é como se acolhe o menino. Enquanto em Belém «não há lugar» nem
mesmo na estalagem, em Maria encontra um acolhimento comovente. A mãe não tem
meios, mas tem coração: «Envolveu-O
em fraldas e deitou-O numa manjedoura».
Não
podemos continuar o relato sem expressar a nossa primeira surpresa: Deus encarna nesta criança? Nunca o
teríamos imaginado assim! Pensamos num Deus majestoso e onipotente, e Ele
apresenta-se a nós na fragilidade de uma criança débil e indefesa. Imaginamo-Lo grande e distante, e Ele
oferece-se na ternura de um recém-nascido. Santa Teresinha do Menino Jesus,
diz: «Eu não posso temer um Deus que se tornou tão pequeno por mim... Eu O
amo!»
O
relato oferece uma chave para aproximarmo-nos do mistério desse Deus. Lucas
insiste até três vezes na importância da manjedoura. É como uma obsessão. Maria coloca-O numa manjedoura. Os pastores
não recebem outro sinal: eles O encontrarão numa manjedoura. Efetivamente,
eles encontram-No na manjedoura ao chegar a Belém. A manjedoura é o primeiro lugar na terra onde se manifesta esse Deus
feito criança. Essa manjedoura é o
sinal para O reconhecer, o lugar onde há que o encontrar. O que se esconde
por detrás desse enigma?
Lucas
refere-se a umas palavras do profeta Isaías, em que Deus se queixa assim: «O
boi conhece o seu amo; o burro conhece a manjedoura do seu Senhor. Mas Israel
não me conhece, não pensa em mim» (Isaías 1,3). A Deus não há que procura-Lo no admirável e maravilhoso, mas no comum e
cotidiano. Não há que indagar no grande, mas rastrear no pequeno.
Os
pastores indicam-nos em que direção procurar o mistério do Natal: «Vamos a
Belém». Mudemos a nossa ideia de Deus.
Façamos uma releitura do nosso cristianismo. Voltemos ao início e descubramos
um Deus próximo e pobre. Vamos acolher a sua ternura. Para o cristão,
celebrar o Natal é «voltar a Belém».
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez
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