A paz como caminho de esperança:
diálogo, reconciliação e conversão ecológica
4. A paz, caminho de conversão ecológica
Se às vezes uma má
compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abuso da natureza,
ou o domínio despótico do ser humano sobre a criação, ou as guerras, a
injustiça e a violência, nós, crentes, podemos reconhecer que então fomos
infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar.
Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da
falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais
– considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem
respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza – precisamos duma conversão ecológica.
O Sínodo recente
sobre a Amazônia impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma
relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória,
entre as experiências e as esperanças.
Este caminho de reconciliação inclui também escuta e
contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa
casa comum. De fato, os recursos
naturais, as numerosas formas de vida e a própria Terra foram-nos confiados
para ser «cultivados e guardados» (cf. Gn 2, 15) também para as gerações
futuras, com a participação responsável e diligente de cada um. Além disso,
temos necessidade duma mudança nas convicções e na perspectiva, que nos abra
mais ao encontro com o outro e à recepção do dom da criação, que reflete a
beleza e a sabedoria do seu Artífice.
De modo particular brotam
daqui motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de
convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de celebrar e respeitar
a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições e modelos de
sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de
desenvolver o bem comum de toda a família humana.
Por conseguinte a conversão
ecológica, a que apelamos, leva-nos a uma nova perspectiva sobre a vida,
considerando a generosidade do Criador que nos deu a Terra e nos chama à
jubilosa sobriedade da partilha. Esta
conversão deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das
relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com
a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a
vida. Para o cristão, uma tal conversão exige deixar emergir, nas relações
com o mundo que o rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus.
Franciscus
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