quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

ANO A | TEMPO DE ADVENTO |SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO – 08.12.2019


Imaculada Conceição de Maria: a divina formosura de quem serve!
Em meio à caminhada do Advento, a festa da Imaculada Conceição de Maria vem nos lembrar que a humildade, a escuta e a fé na ação misericordiosa de Deus são atitudes que nos fazem belos e nos levam a uma vida feliz. O segredo da felicidade não está na posse ou no consumo de bens especiais, na fama ou no sucesso que podemos alcançar e no poder de atração que exercemos sobre as pessoas, mas na abertura humilde e profunda aos outros, ao futuro e a Deus. O fechamento orgulhoso em nós mesmos, e o apego doentio ao presente, não são caminhos de crescimento, mas sinais de enfermidade.
Lucas nos apresenta Maria como uma mulher que sabe ouvir a Palavra viva de Deus, uma mulher pronta a dar o melhor de si para que essa Palavra se realize na história e nela mesma. Isabel proclama que Maria é alguém que ousou acreditar na força da Palavra e na fidelidade daquele que a pronuncia. E, no belo poema que brota dos lábios de Maria, a mãe de Jesus e nossa aparece também como uma pessoa humilde e humilhada, como o foi historicamente seu povo, mas também portadora de uma lucidez profética que impressionou e impressiona até hoje os cristãos e a humanidade toda.
Vivemos – ainda, ou novamente? – tempos de perturbação, medo e nudez. Ouvimos, estupefatos, anúncios provocativos e idiotas: “Consumir é viver! Não existe racismo no Brasil! As mulheres sofrem violências porque merecem! As queimadas são culturais, inevitáveis e necessárias! Os pobres o são porque não poupam! Os direitos humanos são para os humanos direitos! Se houver balbúrdia, a solução será a ditadura! Os torturadores são pessoas que merecem ser horadas!” Proclamações como essas não saem mais apenas da boca de uma pessoa tida como mito, mas são aceitas e repercutidas por legiões de pessoas idiotizadas.
A repentina consciência da nudez à qual a ambição, a luta pelo poder e a influência da mídia nos levaram provoca perturbação e envergonha, como aconteceu com Adão. E, diante disso, a alegre, inocente e inovadora liberdade do Evangelho nos deixa desconcertados, descrentes e perturbados, como ocorreu com Maria. Parece-nos difícil crer que essa feia página da nossa história possa ser virada, que podemos ferir a cabeça dessa serpente que nos encurrala, que é possível revestir-nos de justiça, que podemos – nós, nossas Igrejas e nossa sociedade – preparar uma habitação digna para o Filho que nos devolve a humanidade.
Maria, a jovem mulher de Nazaré, humilde e humilhada, profetiza e servidora, chegou na frente, e nos precede. Nela, também a nós Deus abençoou, escolheu, amou e concedeu a graça de ser filhos e herdeiros de um outro Reino. Para Ele, nada é impossível! Estimulados pelo exemplo da Mãe de Jesus, deixemo-nos envolver pelo júbilo, pela alegria e pela exultação, pois Deus jamais esquece o seu povo, e não cessa de agir com misericórdia, mostrando a força suave e libertadora do seu braço. Saibamos reconhecer os pequenos sinais que antecipam isso, na casa de Nazaré e de Isabel, nas casas e lutas dos pobres de Javé.
A humildade, a fé, a profecia e o serviço estão intrinsecamente relacionados, e são as marcas fundamentais da personalidade e do itinerário espiritual de Maria e dos cristãos. Se Deus pôde realizar grandes coisas nela e através dela é porque encontrou a indispensável base humana já preparada. Não fazemos bem quando idealizamos e espiritualizamos Maria, pois corremos o risco de desumanizá-la completamente, tirando-a da história. Para fazer-se humano, o Filho de Deus precisa de pessoas fundamentalmente humanas, e não de criaturas angélicas! E Maria de Nazaré ‘vai com as outras’, sente-se bem entre as demais mulheres!
Por fim, a assunção de Maria sublinha de forma contundente a dignidade do corpo, de todos os corpos. É uma especial proclamação da dignidade dos corpos humilhados por uma cultura que os transforma em meios de produção, em objetos que podem ser vendidos e comprados, em produtos expostos nas vitrines e passarelas, sem brilho e sem beleza. Esta solenidade é o reconhecimento da formosura dos corpos dinamizados pela fé e curtidos na solidariedade, o anúncio da formosura e da nobreza dos corpos doentes e envelhecidos pelo tempo, assim como do corpo eclesial de muitos e diferentes membros.
Maria de Nazaré, de Belém e de Jerusalém! Tu és mulher, mãe e companheira em todos os caminhos e aventuras que geram mulheres, homens e um mundo novos. Acompanha-nos nestes tempos sombrios. Ensina-nos a sonhar e realizar mudanças realmente profundas. Ajuda-nos a perceber que mudanças de fachada enganam e prejudicam o dinamismo de reconciliação que teu filho nos confiou como herança e missão. E protege o povo brasileiro dos desmandos de gente alucinada. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Livro do Gênesis 3,9-15.20 | Salmo 98 (98)
Carta de Paulo aos Efésios 1,3-12 | Evangelho de São Lucas 1,26-38

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