quinta-feira, 20 de maio de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 23.05.2021

ABERTO AO ESPÍRITO

Não falam muito. Não se fazem notar. A sua presença é modesta e calada, mas são «sal da terra». Enquanto houver no mundo mulheres e homens atentos ao Espírito de Deus, será possível continuar à espera. Eles são o melhor presente para uma Igreja ameaçada pela mediocridade espiritual.

A sua influência não provém do que fazem ou do que falam ou escrevem, mas de uma realidade mais profunda. Encontram-se retirados em mosteiros ou escondidos no meio das pessoas. Não se destacam pela sua atividade e contudo, irradiam energia interior onde quer que estejam.

Não vivem de aparências. A sua vida nasce do mais profundo do seu ser. Vivem em harmonia consigo mesmos/as, atentos/as a fazer coincidir a sua existência com a chamada do Espírito que os/as habita. Sem que eles/as mesmos/as se apercebam, são sobre a Terra, reflexo do Mistério de Deus.

Têm defeitos e limitações. Não estão imunizados/as contra o pecado. Mas não se deixam absorver pelos problemas e conflitos da vida. Voltam uma e outra vez ao fundo do seu ser. Esforçam-se por viver na presença de Deus. Ele é o centro e a fonte que unifica os seus desejos, palavras e decisões.

Basta pôr-se em contato com eles/as para tomar consciência da dispersão e agitação que há dentro de nós. Junto deles/as é fácil perceber a falta de unidade interior, o vazio e a superficialidade das nossas vidas. Eles/as fazem-nos intuir dimensões que desconhecemos.

Estes homens e mulheres abertos ao Espírito são fonte de luz e vida. A sua influência é oculta e misteriosa. Estabelecem com os outros uma relação que nasce de Deus. Vivem em comunhão com pessoas que nunca viram. Amam com ternura e compaixão pessoas que não conhecem. Deus os faz viver em união profunda com toda a criação.

No meio de uma sociedade materialista e superficial, que tanto desqualifica e maltrata os valores do espírito, quero recordar estes homens e mulheres «espirituais». Eles lembram-nos o maior anseio do coração humano e a Fonte última onde se apaga toda a sede.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: