sexta-feira, 24 de março de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 26.03.2023

A NOSSA ESPERANÇA

O relato da ressurreição de Lázaro é surpreendente. Por um lado, nunca se nos apresenta Jesus tão humano, tão frágil e tão cativante como neste momento em que um dos seus melhores amigos está morrendo. Por outro lado, nunca somos tão diretamente convidados a acreditar no seu poder salvador: «Eu sou a ressurreição e a vida: aquele que acredita em mim, ainda que morra, viverá... Acreditas nisto?».

Jesus não oculta o seu carinho por estes três irmãos de Betânia que, certamente, o recebem em sua casa sempre que vem a Jerusalém. Um dia Lázaro adoece e as suas irmãs enviam um recado a Jesus: “O nosso irmão a quem tanto amas está doente”. Quando Jesus chega à aldeia, quando Lázaro faz quatro dias que Lázaro foi enterrado. Já ninguém lhe poderá devolver a vida. A família está destroçada.

Quando Jesus aparece, Maria começa a chorar. Ninguém a pode consolar. Ao ver os soluços da sua amiga, Jesus não pode conter-se e também ele começa a chorar. Sua alma se parte ao sentir a impotência de todos perante a morte. Quem nos poderá consolar?

Há em nós um desejo insaciável de vida. Passamos os dias e os anos a lutar para viver. Agarramo-nos à ciência e, acima de tudo, à medicina para prolongar esta vida biológica, mas chega sempre uma última doença da qual ninguém nos pode curar.

Nem nos serviria viver esta vida para sempre. Seria horrível um mundo envelhecido, cheio de velhos, com cada vez menos espaço para os jovens, um mundo em que não se renovaria a vida. O que ansiamos é uma vida diferente, sem dor ou velhice, sem fomes nem guerras, uma vida totalmente feliz para todos.

Hoje vivemos numa sociedade que foi descrita pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman como «uma sociedade de incerteza». Nunca o ser humano teve tanto poder para avançar para uma vida mais feliz. No entanto, talvez nunca se tenha sentido tão impotente perante um futuro incerto e ameaçador. O que podemos esperar?

Como os seres humanos de todos os tempos, também nós vivemos rodeados de trevas. O que é a vida? O que é a morte? Como devemos viver? Como devemos morrer?

Antes de ressuscitar Lázaro, Jesus diz a Marta essas palavras, que são para todos os seus seguidores um desafio decisivo: «Eu sou a ressurreição e a vida: quem acredita em mim, ainda que tenha morrido, viverá... Acreditas nisto?».

Apesar das dúvidas e trevas, os cristãos acreditam em Jesus, Senhor da vida e da morte. Só nele procuramos luz e força para lutar pela vida e para enfrentarmos a morte. Só nele encontramos uma esperança de vida para além da vida.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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