segunda-feira, 6 de março de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 05.03.2023

O RISCO DE SE INSTALAR

Mais cedo ou mais tarde, todos corremos o risco de nos instalarmos na vida, procurando o refúgio cômodo que nos permita viver tranquilos, sem sobressaltos ou preocupações excessivas, renunciando a qualquer outra aspiração.

Conseguido um certo sucesso profissional, encaminhada a família e assegurado, de alguma forma, o futuro, é fácil ficar preso a um conformismo cômodo que nos permite continuar a caminhar na vida da forma mais confortável.

É o momento de procurar uma atmosfera agradável e acolhedora. Viver relaxado num ambiente feliz. Fazer da casa um refúgio cativante, um cantinho agradável para ler e ouvir boa música. Tempo para saborear boas férias e assegurar uns fins de semana agradáveis...

Mas, com frequência, é neste momento que a pessoa descobre mais claramente do que nunca que esta felicidade não combina com o bem-estar. Falta nessa vida algo, e isso nos deixa vazios e insatisfeitos. Algo que não pode ser comprado com dinheiro ou assegurado com uma vida confortável. Falta simplesmente a alegria própria de quem sabe vibrar com os problemas e necessidades dos outros, sentir solidariedade com os necessitados e viver, de alguma forma, mais próximo dos maltratados pela sociedade.

Mas há também um modo de instalar-se que pode ser falsamente reforçado com tons cristãos. É a eterna tentação de Pedro que sempre nos assombra: «montar tendas no topo da montanha». Ou seja, procurar na religião o nosso bem-estar interior, evitando a nossa responsabilidade individual e coletiva na convivência mais humana.

E, no entanto, a mensagem de Jesus é clara. Uma experiência religiosa não é verdadeiramente cristã se nos isola dos nossos irmãos, nos instala confortavelmente na vida e nos distancia do serviço aos mais necessitados.

Se ouvirmos Jesus, sentir-nos-emos convidados a deixar o nosso conformismo, a romper com um estilo de vida egoísta em que estamos talvez confortavelmente instalados e comecemos a viver mais atentos à interpelação que nos chega dos mais indefesos da nossa sociedade.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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