sexta-feira, 31 de março de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - Domingo de Ramos

CARREGAR A CRUZ

O que nos faz cristãos é o seguimento de Jesus. Nada mais. O seguimento de Jesus não é algo teórico ou abstrato; significa seguir os seus passos, comprometer-se como ele a humanizar a vida, contribuir para que, pouco a pouco, se vá tornando realidade o seu projeto de um mundo onde reine Deus e a sua justiça.

Isto quer dizer que os seguidores de Jesus estamos chamados a pôr verdade onde há mentira; a introduzir justiça onde há abusos e crueldade para com os mais fracos; a pedir compaixão onde há indiferença ante os que sofrem. E isso exige construir comunidades onde se viva o projeto de Jesus, com o seu espírito e as suas atitudes.

O seguimento de Jesus traz consigo conflitos, problemas e sofrimentos. Precisamos estar dispostos a suportar as reações e resistências daqueles que, por uma razão ou por outra, não procuram um mundo mais humano, tal como o quer esse Deus encarnado em Jesus, daqueles que querem outra coisa.

Os evangelhos conservaram uma chamada realista de Jesus aos seus seguidores. A imagem escandalosa só pode vir dele: «Se alguém quiser vir atrás de mim carregue sobre as suas costas a sua cruz e siga-me». Jesus não nos engana: se o seguimos de verdade, teremos que partilhar o seu destino; terminaremos como ele. E essa será a melhor prova de que nosso seguimento é fiel.

Seguir Jesus é uma tarefa apaixonante. É difícil imaginar uma vida mais digna e nobre. Mas ela tem um preço. Para seguir Jesus é necessário «fazer»: fazer um mundo mais justo e mais humano; fazer uma Igreja mais fiel a Jesus e mais coerente com o evangelho. No entanto, é tão ou mais importante «padecer»: padecer por um mundo mais digno; padecer por uma Igreja mais evangélica.

No final da sua vida, o teólogo Karl Rahner escreveu: «Creio que ser cristão é a tarefa mais simples, e, ao mesmo tempo, aquela pesada “carga leve” de que fala o Evangelho. Quando carregamos essa cruz, ela mesma nos carrega, e quanto mais tempo vivemos, mais pesada e mais leve ela será. No final, só resta o mistério. Mas é o mistério de Jesus».

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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