Hospitalidade dayak
Partimos de Lambing logo depois do
almoço, antes das 13:00, e chegamos a Barong Tongkok quando faltavam 15 minutos
para as 14:00. Desta vez, como os rapazes que nostrouxeram de Samarinda tiveram
que voltar na manhã de hoje, quem nos levou em seu carro foi o catequista João
Bosco. Em Barong Tongkok nossos quatro coirmãos, até então desconhecidos para
nós, nos esperavam ansiosos. Com eles, um grupo de aproximadamente 50 pessoas
estavam reunidas no pátio da casa paroquial.
Rito de acolhida dos visitantes |
As boas-vindas foram soleníssimas,
conforme os costumes da cultura tradicional do povo dayak, predominate na ilha
de Kalimantan. Um grupo de uma dúzia de belas jovens com trajes tradicionais
nos recebeu e, depois de nos impor a estola e o chapéu típicos, sacramentos da
hospitalidade, nos precedeu dançando até um lugar preparado para nós, no centro
do pátio. À nossa frente, alguns alimentos típicos oferecidos nestas ocasiões.
Enquanto as garotas continuavam dançando ao nosso redor, um dos líderes
espirituais da tribo rezou longamente, invocando as bênçãos de Deus e
aspergindo água sobre os visitantes. Depois nos conduziram, sempre dançando, à
casa paroquial, onde nos serviram vários alimentos típicos e uma gostosa bebida
fermentada de cor amarela, preparada com um fruto da região. Nuna me senti tão
honrado!
A região de Barong Tongkok é marcadamente cristã: mais
ou menos 60% da população é cristã (infelizmente dividida entre católicos e
protestantes). A cidade tem 24.000 habitantes, e a paróquia Cristo Rei
compreende 20 comunidades e um total de 8.000 católicos. É a mais antiga
paróquia administrada pastoralmente pelos Missionários da Sagrada Família em
Kalimantan. Neste ano 2012 está completando 75 anos de instalação como
paróquia. Para fazer memória desta significativa caminhada de fé cristã, a
equipe paroquial está publicando uma brochura com algumas notas históricas.
A velha igreja-matriz de Barong Tongkok |
A coordenação dos trabalhos está
atualmente sob a responsabilidade do coirmão Pe. Stanislaus Cahyo Yosoutomo
(que se pronuncia tchajio e,
traduzido, significa “aquele que porta a luz da vida”). Pe. Stanislaus tem 56
anos de idade, vem da ilha de Java e de uma família mussulmana. Os primeiros a
aderir ao cristianismo foram os filhos (em número de 6), a começar pela irmã
mais velha. Ele mesmo recebeu o batismo quando frequentava a escola média, numa
escola católica. Os pais foram os últimos a fazer esta passagem, e o pai só
pediu o batismo pouco antes da morte.
Como faziam parte de um setor
mussulmano moderado, os pais fizeram questão de matricular os filhos numa
escola católica e passaram a eles o valor do serviço ao próximo. Um dos frutos
desse espírito de serviço é que 3 dos 6 filhos se tornaram religiosos!
Stanislaus recorda que o pai ainda mussulmano levava os filhos à igreja
católica e, por ocasião dos exames ou outras encruzilhadas difíceis dos filhos
católicos, rezava por eles segundo a tradição islâmica.
Ajudam o Pe. Stanislaus três outros
coirmãos: o Pe. Hardianus Usat, jovem de 37 anos de idade, que se dedica à
animação das comunidades; o Ir. Yohannes Payon Masan, florinese de 44 anos,
formado em economia, que cultiva uma propriedade de 5 hectares de seringa que a
província possui próxima da cidade; o Ir. Dominicus Danan Susilo, 33 anos,
filho de uma família que migrou de Java a Kalimantan, com cursos na área de
produção rural e crédito cooperativo, que se dedica a um pensionato para
estudantes fundado e mantido pela paróquia.
Este pensionato acolhe hoje 57 rapazes
e 92 moças. São jovens que vêm de longe, de lugares onde não há escola, e que
necessitam de um lugar acessível onde possam morar. Pela hospedagem e
alimentação, suas famílias pagam o equivalente a R$ 50,00 por mês. E ainda
recebem formação humana, cristã e profissional, como computação. Se bem que
nisso o Ir. Dominicus é ajudado por alguns leigos, não sei onde ele encontra
tanta energia, pois ainda leciona 30 horas por semana na escola local...
Comunidade MSF da cidade e visitadores |
|
Nestes quase 20 dias de Indonésia só
bebi cerveja três vezes, e vinho nenhuma vez. Este é mais um dos frutos da
influência mussulmana. Mas não é de lamentar. Devo dizer que, em todas as
incontáveis horas de viagem não vi sequer uma única pessoa embriagada. E não vi
nenhum lugar onde seja vendida bebida alcoólica, como também não vi nenhum
motel ou sinal de casa de prostituição. Certamente estas últimas existem, mas
aqui estamos muito longe da multiplicação escancarada de motéis e casas de
prostituição (explícitas ou disfarçadas) que vemos no Brasil. Não há como não
reconhecer alguns bons frutos do islamismo...
É verdade que a falta de alcool acaba
estimulando algumas compensações, e a mais visível é o fumo. É impressionante o que fuma esta gente! Um colega nos
disse que mais de 50% da população indonesiana fuma. Entre os missionários, não me parece que o índice seja menor... É frequente encontrar adolescentes de 13 a 15 anos
fumando tranquilamente. Mas o hábito (ou vício, ou doença)
é muito raro entre as moças e mulheres.
O que estranha mais ainda é que os fumantes pouco respeitam espaços públicos e fuma até dentro dos carros...
Já que entrei na
crítica dos costumes e no âmbito das curiosidades, aqui vai
mais uma: o uso de motos. Aqui praticamente não existem
carros populares: ou se usa um carro grande, caro e confortável (como o fazem praticamente todos os coirmãos), ou se
lença mão da moto. A primeira impressão é de que há uma espécie de
infestação de motos por todos os lados. É claro que o baixo custo (em torno de R$
2.500,00), conjugado com o baixo pode aquisitivo da maioria do povo e com a
absoluta precariedade ou inesistência de transporte coletivo, faz com
que essa seja a saída.
O novo templo catolico da cidade |
Na Indonésia a moto é muito mais que
um meio de transporte privado e individual: é meio de transporte coletivo e de
carga! Não é raro encontrar até 5 pessoas sobre uma minúscula moto! E a
gente vê motos transportando objetos os mais improváveis: 20
tambores de combustível de 100 litros cada; três
amrmários ou guarda-roupas de duas portas; uma montanha de objetos de plástico; quase um mercado completo de produtos alimentares; enormes cestos
com centenas de quilos de produtos agrícolas; mais ou menos 60 frangos
vivos, em gaiolas sobre-postas; uma montanha de capim para tratar os animais; e
asssim por diante, além de toda imaginação...
Finalizo com uma nota sobre a
distribuição de combustível. Apesar de
a Indonésia ser um grande produtor de petróleo e os preços
serem bem acessíveis, a distribuição dos derivados parece não funcionar muito bem. Em todos os
lugares por onde passamos o que vimos foram sempre, em todos os postos de
abastecimento, enormes filas de caminhões, automóveis e motos
esperando sua vez de abastecer. E também, especialmente no interior, muitos
postos fechados por ter acabado o estoque. É aqui que entra a noividade: por
todo lado a gente vê postos improvisados que vendem
combustível em pequenos tambores de plástico de 2, 5, 10 ou 20 litros. O
atendimento é rápido, mas o risco me parece grande
(ao menos aos olhos de quem não é habituado com isso): o pessoal
fuma continuamente em meio a estes tambores com produto inflamável que, por outro lado, se misturam, nos pontos de venda, aos alimentos
in natura ou embalados...
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