Dom Estanislau Amadeu Kreutz,
um dom que fará muita falta!
As Sagradas Escrituras nos convidam a cultivar a
memória das pessoas queridas porque nelas, assim como nos acontecimentos
históricos, Deus revela a si mesmo, sua bondade e sua fidelidade. “Vamos fazer o elogio dos homens ilustres,
nossos antepassados, através das gerações. O Senhor neles criou imensa fama,
pois mostrou sua grandeza desde os tempos antigos... Uns guiaram o povo com
suas decisões, compreendendo os costumes de sua gente e tendo palavras sábias
para instruí-la... Todos foram honrados
por seus contemporâneos e glorificados enquanto viviam. Alguns deixaram o nome
que ainda é lembrado com elogios... Na sua descendência, eles têm uma rica herança,
que é a sua posteridade... A descendência deles permanecerá para sempre, e sua
fama jamais se apagará. Seus corpos foram sepultados em paz, e o nome deles
viverá através das gerações. Os povos proclamarão a sabedoria deles, e a
assembléia celebrará o seu louvor” (Eclesiástico 44,1-15).
Elogiar as pessoas ilustres, honrar os líderes que nos
dirigiram e os pastores que nos guiaram, reconhecer e proclamar a bondade e a
sabedoria daqueles que estiveram à nossa frente e caminharam ao nosso lado não
significa ignorar os limites próprios da condição humana. Significa glorificar
o próprio Deus, que se dignou revelar neles sua graça e sua bondade. Significa
acolher o legado espiritual e humano que nos deixam e fazer com que a memória e
o nome deles permaneça viva e continue frutificando em nós. E é isso que
queremos fazer recordando e celebrando a vida de Dom Estanislau Amadeu Kreutz.
Dom Estanislau Kreutz, dom e graça de Deus na
caminhada do Povo de Deus de Santo Ângelo, foi presença que marcou minha vida em três dimensões:
como pastor na animação incansável e coordenação lúcida da diocese; como bispo
sempre disponível e solidário com os Missionários da Sagrada Família; como
amigo sábio e compreensivo, especialmente depois que deixou a responsabilidade
pastoral da diocese de Santo Ângelo.
Como pastor da parcela do Povo de Deus que está na diocese de
Santo Ângelo, Dom Estanislau marcou pelo apreço pelo clero e pela vida
religiosa, pela serena firmeza e pela presença humana e humilde. Ele amou intensamente os padres e diáconos,
e não apenas os da sua diocese, e não perdia nenhuma oportunidade demonstrá-lo:
nas ordenações, votos e celebrações jubilares; por ocasião do falecimento dos
familiares deles; em momentos exigentes da vida pessoal e pastoral. Dom
Estanislau demonstrou sua firmeza serena e profética especialmente mediante a
presença e o apoio solidário às lutas dos pobres e oprimidos da diocese, mesmo com
o risco de perder a boa fama de que gozava, e na defesa madura e equilibrada
das decisões e práticas de abertura e renovação da Igreja diocesana.
Sem abrir mão daquilo que é essencial no ministério
episcopal, e que às vezes pede presença e intervenções oficiais, Dom Estanislau
também sabia ser presença discreta e
fraterna, e o fazia com notável satisfação. Muitas vezes me senti comovido observando
sua presença discreta e tremendamente estimulante nos encontros de Comunidades,
especialmente das CEB’s. Issso deixa claro que o apreço de Dom Estanislau pelo
clero não significava menosprezo pela atuação eclesial e social dos leigos e
leigas. Mas recordo também tantas celebrações em que ele renunciava à
presidência e se colocava como concelebrante para permitir que um padre vivesse
intensamente um momento especial do seu ministério. Jamais esquecerei a
primeira eucaristia que presidi no Instituto Missioneiro de Telogia, apenas uma
semana depois da ordenação presbiteral: Dom Estanislau pediu que eu presidisse
a celebração, e ele permaneceu ao meu lado, servindo ao altar, como se fosse um
sacristão...
Um segundo aspecto marcante da personalidade e do
ministério de Dom Estanislau que desejo ressaltar é sua presença amiga e solidária nos diversos momentos da vida dos
Missionários da Sagrada Família. Experimentei isso de um modo muito vivo e
intenso no período em que estive à frente da Coordenação Provincial. Foram
incontáveis os eventos e momentos em que ele se fez gentilmente presente:
ordenações diaconais e presbiterais; jubileus de coirmãos, da Província e da
Congregação; visitas ao Governo Geral, em Roma; exéquias de coirmãos ou seus
familiares; ordenação episcopal de Dom Guilherme Werlang; romarias de Nossa
Senhora da Salette... Nisto também se sacramentalizou a perspectiva
profundamente eclesial na qual ele situava o ministério episcopal.
Quero falar ainda sobre uma terceira dimensão da vida
de Dom Estanislau: a atenção e o
relacionamento fraterno e amigo que experimentei da parte dele. Já
mencionei a delicadeza do gesto de permitir que eu presidisse, ao lado dele,
minha primeira missa no IMT, evento que se completou com uma festa patrocinada
por ele para todos os alunos e professores. Quando eu era pároco em Santo
Ângelo, algumas pessoas apresentaram a Dom Estanislau algumas queixas e
acusações sobre o meu trabalho pastoral; ele me chamou para um diálogo
fraterno, apresentou as questões e concluiu com um sorriso acolhedor e um grande
senso pastoral: “Eu conheço você e confio plenamente no seu bom senso!” Livre
da responsablidade primeira pela Diocese, os encontros, visitas e partilhas se
multiplicaram, e ele não perdia oportunidade de proporcioná-los. No período que
passei em Roma, seguidamente Dom Estanislau me surpreendia chamando-me pelo Skipe, e então conversávamos longamente.
Um privilégio que valorizo muito.
Por isso que assinalei, e por muitos outros aspectos
igualmente importantes, a partida de Dom Estanislau fará muita falta. Mas creio
também que a preciosa semente que ele espalhou enquanto viveu frutificará
abundantemente. Como diz a Escritura: seu corpo foi sepultado em paz e o seu
nome viverá através das gerações. Proclamemos a sabedoria e a bondade que ele
recebeu de Deus, e celebremos juntos o louvor por sua vida.
Pe. Itacir Brassiani msf
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