A sabedoria da paciência e a seriedade da urgência.
Como a
parábola do semeador, as parábolas do trigo e do joio, da semente de mostarda e
do fermento estão situadas na parte do evangelho de Mateus que trata do dinamismo do Reino de Deus. Os
discípulos se perguntam se o Reino inaugurado
por Jesus Cristo é realmente uma boa semente, se tem força e futuro. A
experiência deles e nossa é de que, apesar de todos os esforços e bons propósitos,
o resultado do nosso empenho generoso é ambivalente, insuficiente e
preocupante.
A ambiguidade tem suas raízes nas
dimensões inconscientes do ser humano. A oposição faz parte da condição humana
e coexiste com as boas iniciativas. Existem forças que
se opõem ao processo de libertação, mas so incapazes de impedir seu
florescimento. Jesus não se preocupa em pesquisar e debater a origem do mal que
contamina as iniciativas e projetos humanos.
Ele simplesmente diz que numa noite, “quando todos dormiam” um
adversário semeou joio no meio do trigo.
É
interessante destacar que é apenas quando a boa semente do Reino se desenvolve
que a presença do mal se faz notar. O mal que se opõe à justiça do Reino não é uma força absoluta, comparável ou
superior ao bem: é uma força sempre
relativa, identificável no confronto com os valores e práticas de Jesus
Cristo e seus discípulos. Ela provoca confusão e nos rouba forças que poderiam
ser empenhadas noutras coisas, mas não
tem futuro.
O zelo
pela casa de Deus às vezes provoca em nós uma santa ira, e nosso desejo é pegar
foices e facões e extirpar da sociedade a injustiça e da Igreja a ambiguidade,
cortando o mal pela raiz. Esta seria uma
solução relativamente fácil se o joio estivesse apenas no nosso exterior,
se fôssemos pessoas incorruptíveis, sem ambivalências e sem contradições. Mas o
integrismo costuma se mostrar irracional e violento. É preciso ter paciência e
esperar que as coisas fiquem mais claras...
Jesus
propõe duas outras parábolas, nas quais contrapõe a notável pequenez da semente de mostarda e do
fermento ao arbusto frondoso e à
massa levedada que produzen. Estas parábolas são uma resposta às perguntas que
frequentemente nos fazemos: será que o
amor, a ternura e a compaixão não são ações insignificantes, pequenas e
demasiadamente frágeis frente à injustiça e à opressão? Teremos que nos
contentar em ser sempre uma minoria que age apenas reparam danos?
Para os
grandes Roma, de Jerusalém e de todos os centros de poder, a semente e o
fermento do Reino de Deus é insignificante e sem futuro. Não faltam aqueles
que, em nome da eficácia histórica, propõem uma Igreja mais forte e potente,
capaz de medir forças ou negociar com os impérios de plantão. Mas a proposta de
Jesus é outra: trata-se de crer na força dos fracos, na fecundidade invencível
do amor solidário, no dinamismo revolucionário da profecia e do testemunho.
Mas a
pergunta ressurge insistente: isso não
foi sempre um romantismo inconsequente? Jesus responde a este
questionamento chamando nossa atenção ao mundo doméstico e feminino. Precisamos
aprender da ação silenciosa, escondida e
demorada do fermento que a cozinheira mistura à farinha. Ninguém ousaria
afirmar que a ação do fermento é ineficaz! Mas, para ser eficaz, o fermento do Reino
de Deus precisa entrar em contato e perder-se na farinha.
Esta
parábola do Reino completa o que naturalmente falta às anteriores. Cada
parábola quer evidenciar um aspecto do dinamismo do Reino de Deus. Aquela do
trigo e do joio nos chamam à paciência e ao discernimento; a da semente de
mostarda nos ensina a confiaça nos meios aparentemente pequenos e frágeis; e a
parábola do fermento nos interpela ao engajamento lúcido e transformador, a
gastar-se na ação de solapar as bases de impérios que excluem e matam.
Jesus de Nazaré, incansável pregador do
Reino de Deus, teimoso construtor de um Novo mundo! Ensina aos teus filhos e às
Igrejas que anunciam teu Reino um zelo sábio e respeitoso. Ensina-nos a atuar
como o fermento, a “corromper” o tecido social que mantém o reino dos mais
fortes, a criar micro-organismos portadores de uma nova ordem social, geradores
de novos homens e novas mulheres. Dá-nos a coragem de perdermo-nos na luta,
como fermento que transforma a massa, com a força do teu Espírito e da tua
Palavra, sem medos, mas também sem integrismos nem totalitarismos. E ajuda-nos
a descobrir o infinito e fecundo valor dapequenez, da minoridade. Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Sabedoria
12,13-19 * Salmo 85 (86) * Carta aos Romanos 8,26-27 * Mateus 13,24-43)
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