Paroquia: breve história
de uma instituição bimilenar
Inicialmente, nos primeiros séculos, os cristãos
viviam como forasteiros, dispersos e imersos nas brechas da sociedade
organizada a partir das tradições orientais e dos esquemas impostos pelo
Império romano. Esses grupos de cristãos não-cidadãos foram denominados “paróquia”,
palavra que significava “casa dos que não tem casa”. Eram grupos do Caminho,
reunidos em torno da memória de Jesus de Nazaré.
A partir do terceiro século, o cristianismo vai sendo paulatinamente
tolerado e promovido pelo Império romano. Com isso, vai também assimilando suas
estruturas e formas organizativas. Então surge e se fortalece uma certa
distinção entre clero (diáconos, padres e bispos) e povo. Surgem também as
igrejas centrais (matrizes) e as dioceses.
É durante o quarto e quinto séculos que surge e se fortalece a paróquia
como estrutura. É a época de construção de grandes templos, que passam a
receber o nome de “igrejas”, palavra antes aplicada à comunidade dos discípulos
e discípulas. Com o início da evangelização no meio rural, a paróquia é
repensada e adaptada à nova situação.
A partir de então, a paróquia
pode ser descrita como a comunidade de cristãos de determinada localidade,
tendo à frente um padre que, como delegado e representante do Bispo, forma e
controla os fiéis em seu nome. Com o aumento da posse de bens, as paróquias
passam a ser cobiçadas, e são objeto de redobrada atenção dos Bispos. Bispos e
padres passam a ser mais administradores e sacerdotes que pastores e
missionários.
Durante o período do feudalismo, as paróquias são controladas pelos
senhores feudais, que, então, passam a ser senhores da terra, do povo e das
paróquias. A partir do século XII, a paróquia assume ares
de cartório, e é procurada basicamente por quem necessita de algum documento.
Isso a esvaziou quase que totalmente do seu sentido de comunidade eclesial...
Nos séculos XIV e XV, os bispos se concentraram nos palácios episcopais,
e as paróquias se tornam uma espécie de propriedade pessoal dos párocos, que
nela fazem o que bem entendem. Por causa dos bens que acumulam, as paróquias
passam a ser objeto de ambição por parte dos padres, e a vida cristã ou paroquial
consiste basicamente nos sacramentos, festas e procissões, além das romarias
aos grandes santuários.
O Concílio de Trento (1545-1563) se propôs a reformar a paróquia,
determinando que os bispos definissem claramente seus territórios e as
visitassem frequentemente. Mas isso acabou conferindo ainda mais poder e
autonomia aos párocos, e os leigos foram excluídos de vez. Os padres eram tudo,
e os leigos não eram nada!
Nos séculos XVIII e XIX, surgem várias obras paroquiais, e os párocos se
tornam basicamente administradores dessas obras. Não obstante algumas
tentativas de reforma do sistema paroquial, o século XX viu a paróquia
se tornar cada vez mais seca e sem sentido. Visivelmente, eram estruturas de
outro tempo...
Veio o Concílio Vaticano II, que provocou uma reviravolta nos rumos da
Igreja, particularmente da paróquia. Aos poucos, as capelas foram se
transfigurando em comunidades. A Conferência
de Medellín é perpassada pela ideia de comunidade, e Puebla lhe dá plena cidadania. Santo
Domingo trabalha com a ideia de paróquia como comunhão orgânica e missionária
de comunidades e grupos.
Itacir
Brassiani msf
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