A necessária conversão missionaria dos padres
Gostaria de iniciar essa reflexão sobre as comunidades e paroquias
missionarias com um pensamento programático do Papa Francisco: “A missão não
pode ser apenas uma parte da nossa
vida, um ornamento que podemos
dispensar, um simples apêndice ou um momento entre tantos outros. É algo que não posso arrancar do meu ser, se
não quero me destruir. Somos como que marcados a fogo por esta missão de
iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar” (Evangelii Gaudium n° 273).
Como se depreende desse pensamento, missão é coisa séria, sempre, para
todos os cristãos! Mas alguns coirmãos que trabalharam ou trabalham nas
paróquias já experimentaram pessoalmente a
tensão entre a perspectiva missionária do nosso carisma e as exigências da
pastoral convencional. Alguns chegam a pensar que, no trabalho paroquial,
somos forçados a esquecer o carisma específico e a atuar como padres diocesanos.
Se fosse de fato assim, deveríamos simplesmente abandonar as paróquias para
garantir a fidelidade à vocação que publicamente professamos e à missão que a
Igreja reconhece e nos confia.
Por trás dessa tensão está
uma velha e limitada compreensão do ministério presbiteral, que o próprio Concilio Vaticano II superou, há mais de 50 anos.
Efetivamente, o Concílio sublinhou a
responsabilidade missionária dos presbíteros: como representantes de Cristo e cooperadores dos bispos na tríplice missão
da Igreja, eles devem dedicar-se inteiramente à missão e ter consciencia de
quanto falta ainda para se chegar à plenitude do corpo místico de Cristo e de
quanto se deve ainda fazer nesse sentido. Seu trabalho pastoral deve ser
pensado de forma que seja útil ao anúncio do Evangelho inclusive entre os
não-cristãos (cf. Ad Gentes, n° 39).
No documento sobre a missão presbiteral, o Concílio lembra que aos presbíteros se pede uma atenção particular aos pobres e
fracos, “com os quais o próprio Senhor se mostrou unido, e cuja evangelização é
apresentada como sinal da obra messiânica”. Sua missão não se limita ao cuidado dos fiéis que pertencem à
comunidade, mas estende-se à formação da comunidade cristã, a qual “não deve
fomentar só o cuidado pelos seus fiéis mas deve também, imbuída de zelo
missionário, preparar a todos o caminho para Cristo” (Presbytorum
ordinis, n° 6).
A propósito, São João Paulo II escreveu que os presbíteros “são chamados
a partilhar a solicitude pela missão, devem ter um coração e uma mentalidade
missionária, a estar abertos às necessidades da Igreja e do mundo e atentos aos
mais distantes e, sobretudo, aos grupos não cristãos do próprio meio” (Redemptoris Missio, n° 67). Refletindo sobre
a formação presbiteral, o mesmo pontífice afirma que “o presbítero deve ser, no
relacionamento com todas as pessoas, o homem da missão e do diálogo” (Pastores Dabo Vobis, n° 13).
É por isso que a Conferência de
Aparecida diz, sem rodeios e de forma programática: “A renovação da paróquia exige atitudes novas dos párocos e dos
sacerdotes que estão a serviço dela. A primeira exigência é que o pároco
seja autêntico discípulos de Jesus Cristo, porque só um sacerdote apaixonado pelo
Senhor pode renovar uma paróquia. Mas, ao mesmo tempo, deve ser ardoroso missionário que vive em constante desejo de buscar os
afastados e não se contenta com a simples administração” (Aparecida n° 201). Supõe também que ele
seja promotor e animador da diversidade missionaria dos membros da comunidade.
Itacir Brassiani msf
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