O jugo e o fardo que
pesam sobre o povo estão com os dias contados!
Aquele
que foi anunciado como o Cordeiro de Deus
vem ao encontro dos últimos da sociedade e estabelece entre eles sua morada. A
partir de um mundo periférico e envolto em trevas, Jesus de Nazaré anuncia
viabiliza uma novidade que muda radicalmente o mundo: o Reino de Deus está
tomando força. Para acolher e levar adiante este sonho indomável, ele chama
homens e mulheres de boa vontade, aos quais pede unicamente que abram os olhos
e a mente à novidade em curso e tenham a coragem de superar as divisões e
competições mesquinhas, distanciar-se da surrada e desumana indiferença e romper
os compromissos com os velhos e às vezes dourados sistemas de dominação.
Jesus começa sua missão depois que lhe chega a notícia da prisão de João
Batista, seu parente profeta. Ele traz ainda muito viva a recente experiência
do encontro com este profeta radical à beira do rio Jordão, a consciência de
ser filho amado e servo dedicado (cf. Mt 3,13-17), assim como a prova das
tentações, uma antecipação do confronto duro e exigente que marcaria toda sua
missão (cf. Mt 4,1-11). Jesus deixa sua pequena e querida Nazaré e se muda para
para Cafarnaum, às margens do mar, sempre na região da Galiléia. Mas esta mudança de endereço não tem nada de
fortuito!
No passado, a região de Zebulon e Neftali assistira a uma violenta
deportação dos seus filhos. Para Jesus, é lá que se reacende a luz da esperança
e ressurge um canto de alegria. Ele escolhe esta região guiado pelo Espírito de
Deus. Não muda de Nazaré para cidades maiores e famosas como Tiberíades
(importante cidade portuária) ou Séforis (destacado centro cultural). Como
cidadão judeu num território controlado por Roma, Jesus decide continuar
morando na margem, junto à população empobrecida, longe daqueles que colaboram
com o império e ao lado daqueles que lhe resistem.
Com a presença de Jesus, a noite da opressão que envolve os povos se
transfirgura em noite da libertação, a periferia se converte em centro de
renovação, a canga e a vara que encarnam a dominação viram lenha de fogueira.
Gritos e cantos de alegria substituem o clamor de um povo submergido nas
sombras da morte. A razão de tal mudança? Tudo brota do alegre e jubiloso
anúncio de Jesus: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo!” A
novidade alegre é que o tempo de espera se esgotou! Jesus é o enviado de Deus
para desatar o pesado fardo do pecado, jogado às costas do povo!
Mas Jesus não se limita a anunciar
a proximidade do Reino de Deus. Ele faz questão de demonstrar sua presença e seu dinamismo mediante ações claramente
libertadoras. Segundo o evangelista, Jesus “percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, anunciando a Boa Nova do Reino e curando toda espécie de doença e
enfermidade do povo.” Ele restaura a integridade física dos doentes,
possibilita a reinserção social dos excluídos, derrota as forças que oprimem o
povo e cura um mundo radicalmente enfermo. Com Jesus e em torno dele começa uma
nova história.
Mas sem envolvimento pessoal na ação não há liberdade que seja digna desse
nome. Por isso, além de anunciar e demonstrar a irrupção dos áureos tempos
sonhados, Jesus age chamando
discípulos e associando-os à sua missão. Em torno dele, as pessoas chamadas
formam uma espécie de comunidade alternativa,
centrada na vivência, no anúncio e no serviço ao Reino de Deus, cujo conteúdo é
a libertação radical do ser humano. O chamado de Jesus é uma espécie de
contestação da pretensa imutabilidade da ordem dominante e uma demonstração da
fecundidade da força que vem de Deus.
Os primeiros membros desta comunidade alternativa são duas duplas de
irmãos, todos galileus marginais que se ocupavam da pesca. O evangelista
ressalta a resposta positiva, imediata e incondicional do quarteto ao chamado
de Jesus. A decisão de seguir Jesus comporta sempre, além da total confiança
nele, um custo social e econômico considerável, expresso pelo abandono da
atividade social. Por isso, Pedro, André e os filhos de Zebedeu deixam o barco
e o pai, rompem com os valores da família patriarcal e com a sustentação do
império romano e lançam as bases de uma família nova e alternativa.
Deus querido, pai e
mãe de uma humanidade ferida e sedenta de vida. Teu Filho iniciou sua missão na
periferia, e continua chamando homens e mulheres pouco influentes mas muito
sonhadores. Faz ressoar em nossos ouvidos, e nos ouvidos de muitos, o convite que
ele não cessa de fazer. Dá-nos liberdade e generosidade para lançarmos as
sementes de uma nova humanidade, prefigurada em famílias abertas e inclusivas e
em comunidades solidárias e totalmente empenhadas em frutificar em boas obras,
ou seja, na tarefa de conduzir todas as pessoas e povos à tua única e querida
família. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaías 8,23-9,3 *
Salmo 26 (27) * 1ª. Carta aos Coríntios 1,10-13 * Evangelho de Mateus 4,12-23)
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