quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

ANO A – TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 22.01.2017

O jugo e o fardo que pesam sobre o povo estão com os dias contados!

Aquele que foi anunciado como o Cordeiro de Deus vem ao encontro dos últimos da sociedade e estabelece entre eles sua morada. A partir de um mundo periférico e envolto em trevas, Jesus de Nazaré anuncia viabiliza uma novidade que muda radicalmente o mundo: o Reino de Deus está tomando força. Para acolher e levar adiante este sonho indomável, ele chama homens e mulheres de boa vontade, aos quais pede unicamente que abram os olhos e a mente à novidade em curso e tenham a coragem de superar as divisões e competições mesquinhas, distanciar-se da surrada e desumana indiferença e romper os compromissos com os velhos e às vezes dourados sistemas de dominação.
Jesus começa sua missão depois que lhe chega a notícia da prisão de João Batista, seu parente profeta. Ele traz ainda muito viva a recente experiência do encontro com este profeta radical à beira do rio Jordão, a consciência de ser filho amado e servo dedicado (cf. Mt 3,13-17), assim como a prova das tentações, uma antecipação do confronto duro e exigente que marcaria toda sua missão (cf. Mt 4,1-11). Jesus deixa sua pequena e querida Nazaré e se muda para para Cafarnaum, às margens do mar, sempre na região da Galiléia.  Mas esta mudança de endereço não tem nada de fortuito!
No passado, a região de Zebulon e Neftali assistira a uma violenta deportação dos seus filhos. Para Jesus, é lá que se reacende a luz da esperança e ressurge um canto de alegria. Ele escolhe esta região guiado pelo Espírito de Deus. Não muda de Nazaré para cidades maiores e famosas como Tiberíades (importante cidade portuária) ou Séforis (destacado centro cultural). Como cidadão judeu num território controlado por Roma, Jesus decide continuar morando na margem, junto à população empobrecida, longe daqueles que colaboram com o império e ao lado daqueles que lhe resistem.
Com a presença de Jesus, a noite da opressão que envolve os povos se transfirgura em noite da libertação, a periferia se converte em centro de renovação, a canga e a vara que encarnam a dominação viram lenha de fogueira. Gritos e cantos de alegria substituem o clamor de um povo submergido nas sombras da morte. A razão de tal mudança? Tudo brota do alegre e jubiloso anúncio de Jesus: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo!” A novidade alegre é que o tempo de espera se esgotou! Jesus é o enviado de Deus para desatar o pesado fardo do pecado, jogado às costas do povo!
Mas Jesus não se limita a anunciar a proximidade do Reino de Deus. Ele faz questão de demonstrar sua presença e seu dinamismo mediante ações claramente libertadoras. Segundo o evangelista, Jesus “percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, anunciando a Boa Nova do Reino e curando toda espécie de doença e enfermidade do povo.” Ele restaura a integridade física dos doentes, possibilita a reinserção social dos excluídos, derrota as forças que oprimem o povo e cura um mundo radicalmente enfermo. Com Jesus e em torno dele começa uma nova história.
Mas sem envolvimento pessoal na ação não há liberdade que seja digna desse nome. Por isso, além de anunciar e demonstrar a irrupção dos áureos tempos sonhados, Jesus age chamando discípulos e associando-os à sua missão. Em torno dele, as pessoas chamadas formam uma espécie de comunidade alternativa, centrada na vivência, no anúncio e no serviço ao Reino de Deus, cujo conteúdo é a libertação radical do ser humano. O chamado de Jesus é uma espécie de contestação da pretensa imutabilidade da ordem dominante e uma demonstração da fecundidade da força que vem de Deus.
Os primeiros membros desta comunidade alternativa são duas duplas de irmãos, todos galileus marginais que se ocupavam da pesca. O evangelista ressalta a resposta positiva, imediata e incondicional do quarteto ao chamado de Jesus. A decisão de seguir Jesus comporta sempre, além da total confiança nele, um custo social e econômico considerável, expresso pelo abandono da atividade social. Por isso, Pedro, André e os filhos de Zebedeu deixam o barco e o pai, rompem com os valores da família patriarcal e com a sustentação do império romano e lançam as bases de uma família nova e alternativa.
Deus querido, pai e mãe de uma humanidade ferida e sedenta de vida. Teu Filho iniciou sua missão na periferia, e continua chamando homens e mulheres pouco influentes mas muito sonhadores. Faz ressoar em nossos ouvidos, e nos ouvidos de muitos, o convite que ele não cessa de fazer. Dá-nos liberdade e generosidade para lançarmos as sementes de uma nova humanidade, prefigurada em famílias abertas e inclusivas e em comunidades solidárias e totalmente empenhadas em frutificar em boas obras, ou seja, na tarefa de conduzir todas as pessoas e povos à tua única e querida família. Assim seja!  Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaías 8,23-9,3 * Salmo 26 (27) * 1ª. Carta aos Coríntios 1,10-13 * Evangelho de Mateus 4,12-23)

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