Vaticano
II: um processo de conversão
Depois
de nos apresentar a interessante reflexão sobre os paradigmas da missão, o professor
Mémore Restori nos conduziu numa instigante reflexão sobre as mudanças e
novidades que o Concilio Vaticano II introduziu na reflexão sobre a missão. São
várias as passagens operadas: de uma Igreja que dizia ter missões a Igreja se entende
intrinsecamente missionaria; de uma missão operada como conquista para uma missão
centrada no diálogo; de uma missão focalizada na Igreja para uma missão ordenada
ao Reino de Deus
Isso
significa que, no horizonte do Vaticano II, a finalidade da missão é colaborar
com o plano salvífico de Deus, e não implantar a Igreja onde ela ainda não se
estabeleceu. A atitude fundamental do missionário é reconhecer que Deus está desde
sempre dialogando com os povos. Todas as religiões contém sementes do Verbo de
Deus e lampejos da Verdade que salva. É mais do que claro que isso representa
uma virada copernicana na missiologia!
O
Decreto Ad Gentes, sobre a ação missionaria
da Igreja, foi aprovado no dia 7 de dezembro de 1965, dois dias antes da
conclusão do Concilio, por 2.394 votos favoráveis e apenas 5 votos contrários.
Foi um sinal inequívoco de uma acolhida maciça da novidade já anunciada nos
documentos anteriores, mas o documento sobre a missão enfrentou intensos
debates no processo de elaboração.
Ad Gentes é uma espécie
de observatório e laboratório da missão.
O primeiro capítulo, o mais importante, trata da natureza da missão. O
segundo capítulo descreve a obra missionária: elementos práticos e fases da
missão (testemunho, pregação, formação da comunidade crista). No terceiro capítulo
fala-se das Igrejas particulares e sua missionariedade (as que nascem nas
fronteiras da missão, igrejas jovens), enquanto que o capítulo quarto fala dos
agentes da missão e sua formação. O penúltimo e o último capítulos abordam,
respectivamente, a organização da atividade missionaria e a cooperação
missionaria.
Depois
do Vaticano II, em 1975, Paulo VI escreveu a Evangelii nuntiandi, que é uma espécie de carta magna da
evangelização, resultado do Sínodo de
1974, que teve como tema a evangelização do mundo contemporâneo, na
intenção de dar uma resposta leal, humilde, corajosa para depois agir
consequentemente. Era um momento de tensão e de crise, com o perigo de perder a
esperança. Esta encíclica provoca um deslocamento teológico, colocando em
destaque central o Reino de Deus e a ação de Jesus Cristo, substituindo o
conceito de missão pelo conceito de evangelização.
Evangelii nuntiandi entende que o anúncio
do Evangelho é um serviço à comunidade e ao mundo, uma tarefa urgente em tempos
de incertezas e desorientação. A evangelização é uma realidade complexa, que
tem como meta renovar a humanidade, alcançar todos os extratos da sociedade,
inclusive a cultura. Isso se faz através do testemunho de vida, do anúncio explícito
de Jesus Cristo e seu Reino, levando à adesão pessoal e profunda ao Evangelho e
à entrada numa comunidade eclesial concreta, transformando o evangelizado em um
evangelizador. Os destinatários são universais, o anuncio deve chegar a todos
os interlocutores.
Em
1990, João Paulo II nos dá a Redemptoris
Missio, partindo da constatação de que a missão especifica ad gentes parecia estar esmorecendo, de
que o número de pessoas que não conhecem (ou rejeitam) Jesus Cristo e o
Evangelho estavam crescendo. Nesse contexto, o Papa queria resgatar a força
dinâmica da missão. O documento protagoniza um novo deslocamento teológico:
enquanto que Ad Gentes sublinha a
Trindade e Evangelii Nuntiandi
atribui ao Espírito Santo o papel de protagonista da missão,
Redemtoris Missio coloca toda a
ênfase em Jesus Cristo.
Itacir
Brassiani msf
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