O que te peço, Senhor, é a graça de
ser.
Não te peço sapatos, peço-te
caminhos.
O gosto dos caminhos recomeçados,
com suas surpresas e suas mudanças.
Não te peço coisas para segurar,
mas que as minhas mãos vazias se
entusiasmem na construção da vida.
Não te peço que pares o tempo na
minha imagem predileta,
mas que ensines meus olhos a encarar
cada tempo como uma nova oportunidade.
Afasta de mim as palavras que servem
apenas para evocar cansaços, desânimos, distancias.
Que eu não pense saber já tudo
acerca de mim e dos outros.
Mesmo quando não posso ou quando não
tenho,
sei que posso ser, simplesmente ser.
É isso que te peço, Senhor: a graça
de ser de novo!
(José Tolentino Mendonça, Um Deus que dança, p. 84)
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