Um país divido pede promotores/as de fraternidade e comunhão!
Há cinco semanas, com
a escuta e a meditação do evangelho segundo Marcos, vínhamos sendo chamados/as
insistentemente à compreensão, à acolhida do Evangelho do Reino de Deus e à
conversão. O tempo especial da Quaresma
que hoje iniciamos, reforçado pela Campanha
da Fraternidade celebrada em ritmo ecumênico, dá prosseguimento e
intensifica este chamado. Nesta Quarta-Feira
de Cinzas, a Palavra de Deus faz ressoar com timbre de sino o anúncio de
que este é um tempo de graça e reconciliação, que precisamos passar dos sinais
exteriores e gestos postiços a uma verdadeira adesão a Jesus Cristo e seu
Evangelho.
É triste mas também
obrigatório constatar que a fraternidade precise de uma campanha especial que a
promova, quando deveria ser o sinal e o distintivo da nossa fé em Jesus Cristo.
Mais triste ainda é constatar que esta iniciativa consolidada da Igreja vem
sendo questionada e deslegitimada por grupos católicos ultraconservadores que,
com suas práticas e manifestações, negam o que significa “catolicismo”. A
virulência e a intolerância dos ataques contra a CNBB e o Papa Francisco só confirmam
a urgência de uma fraternidade cristã capaz de celebrar as núpcias do amor com
a verdade, da justiça com a paz.
Demos a Deus a
palavra. “Voltai para mim com todo o vosso coração! Rasgai o coração e não as
vestes! Voltai para o Senhor, vosso Deus! Ele é benigno e compassivo, paciente
e cheio de misericórdia!” Pedindo jejum e lágrimas, Deus pede, antes de tudo,
consciência profunda e sincera dos nossos próprios pecados, e não das
imperfeições ou culpas dos outros. Inspirado pelo Espírito, o salmista nos
ensina a rezar corretamente: “Eu reconheço toda a minha iniquidade, o meu
pecado está sempre à minha frente... Criai em mim um coração que seja puro,
dai-me de novo um espírito decidido, confirmai-me com espírito generoso!”
Jesus, homem enviado
por Deus e ouvinte fiel da sua Palavra, nos pede: “Ficai atentos para não
praticar a vossa justiça diante dos homens, só para serdes vistos por eles! Não
façais como os hipócritas...” Até mesmo a piedade que se manifesta na oração,
na esmola e no jejum, podem ser corrompida pelo desejo de causar boa impressão
e de passar por “gente de bem”. E o que diria Jesus das estranhas mortificações
e ostentações que hoje são buscadas nos porões da história da Igreja para
substituir a verdadeira conversão ao Evangelho? Jesus nos adverte que
aqueles/as que agem assim não podem esperar nada, já estão recompensados/as.
Sabemos que quando, no
evangelho segundo Mateus, Jesus fala de “hipócritas”, ele está se referindo aos
fariseus, àquele grupo de judeus piedosos e intolerantes que, por definição,
vivem separados dos demais, pois se consideram melhores, puros e superiores a
todos os outros/as. Sob a aparência de piedade e de fidelidade à lei de Deus,
eles escondem, cultivam e praticam a exterioridade, a arrogância e a violência,
e também disfarçam a exploração sobre as viúvas indefesas. Jesus não se cansa
de prevenir seus discípulos/as contra esta permanente tentação que ronda as
pessoas que se consideram melhores e mais piedosas.
A Campanha da Fraternidade, especialmente quando ecumênica, pretende
resgatar e dinamizar o respeito, a comunhão o diálogo e a cooperação entre os
diversos grupos e segmentos sociais e eclesiais. Ela sinaliza que o diálogo é o
melhor testemunho do Evangelho. “A fé nos lembra que Cristo é nossa paz, e nos
anima a prosseguir pelo caminho da unidade na diversidade”. Neste ano, seu
objetivo é convidar as comunidades e pessoas de boa vontade a “pensarem,
avaliarem e identificarem caminhos para superar as polarizações e violências
através do diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade” (Texto-Base, § 3).
Jesus nunca orientou
seus discípulos/as a criar inimizade e competição, ou a perseguir outras
pessoas em seu nome. A diversidade de expressões humanas, cristãs e religiosas não
é ruim, mas sinal do imenso e irrestrito amor de Deus pela humanidade. No
Evangelho “não há nada que justifique a inimizade e a anulação da diversidade
humana” (Texto-Base, § 22; c f. § 9).
Por isso, precisamos hoje acolher com verdadeira disposição a exortação de
Paulo: “Deixai-vos reconciliar com Deus”, e não recebais em vão a graça de
Deus.
Deus e Pai, nós vos
louvamos pelo vosso infinito amor e vos agradecemos por ter enviado Jesus. Ele
veio trazer paz e fraternidade à humanidade dividida e viveu relações marcadas
pela comunhão, solidariedade e misericórdia. Derrama sobre nós o Espírito
Santo, para que acolhamos seu projeto e sejamos construtores de uma Igreja
fraterna e inclusiva e de uma Igreja e um país livre da intolerância, da
injustiça e da violência, violência, para que cresça o vosso Reino de colaboração,
unidade e paz. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf
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