segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

ANO B | TEMPO QUARESLMAL | QUARTA-FEIRA DE CINZAS | 17.02.2021

Um país divido pede promotores/as de fraternidade e comunhão!

Há cinco semanas, com a escuta e a meditação do evangelho segundo Marcos, vínhamos sendo chamados/as insistentemente à compreensão, à acolhida do Evangelho do Reino de Deus e à conversão. O tempo especial da Quaresma que hoje iniciamos, reforçado pela Campanha da Fraternidade celebrada em ritmo ecumênico, dá prosseguimento e intensifica este chamado. Nesta Quarta-Feira de Cinzas, a Palavra de Deus faz ressoar com timbre de sino o anúncio de que este é um tempo de graça e reconciliação, que precisamos passar dos sinais exteriores e gestos postiços a uma verdadeira adesão a Jesus Cristo e seu Evangelho.

É triste mas também obrigatório constatar que a fraternidade precise de uma campanha especial que a promova, quando deveria ser o sinal e o distintivo da nossa fé em Jesus Cristo. Mais triste ainda é constatar que esta iniciativa consolidada da Igreja vem sendo questionada e deslegitimada por grupos católicos ultraconservadores que, com suas práticas e manifestações, negam o que significa “catolicismo”. A virulência e a intolerância dos ataques contra a CNBB e o Papa Francisco só confirmam a urgência de uma fraternidade cristã capaz de celebrar as núpcias do amor com a verdade, da justiça com a paz.

Demos a Deus a palavra. “Voltai para mim com todo o vosso coração! Rasgai o coração e não as vestes! Voltai para o Senhor, vosso Deus! Ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia!” Pedindo jejum e lágrimas, Deus pede, antes de tudo, consciência profunda e sincera dos nossos próprios pecados, e não das imperfeições ou culpas dos outros. Inspirado pelo Espírito, o salmista nos ensina a rezar corretamente: “Eu reconheço toda a minha iniquidade, o meu pecado está sempre à minha frente... Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido, confirmai-me com espírito generoso!”

Jesus, homem enviado por Deus e ouvinte fiel da sua Palavra, nos pede: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça diante dos homens, só para serdes vistos por eles! Não façais como os hipócritas...” Até mesmo a piedade que se manifesta na oração, na esmola e no jejum, podem ser corrompida pelo desejo de causar boa impressão e de passar por “gente de bem”. E o que diria Jesus das estranhas mortificações e ostentações que hoje são buscadas nos porões da história da Igreja para substituir a verdadeira conversão ao Evangelho? Jesus nos adverte que aqueles/as que agem assim não podem esperar nada, já estão recompensados/as.

Sabemos que quando, no evangelho segundo Mateus, Jesus fala de “hipócritas”, ele está se referindo aos fariseus, àquele grupo de judeus piedosos e intolerantes que, por definição, vivem separados dos demais, pois se consideram melhores, puros e superiores a todos os outros/as. Sob a aparência de piedade e de fidelidade à lei de Deus, eles escondem, cultivam e praticam a exterioridade, a arrogância e a violência, e também disfarçam a exploração sobre as viúvas indefesas. Jesus não se cansa de prevenir seus discípulos/as contra esta permanente tentação que ronda as pessoas que se consideram melhores e mais piedosas.

A Campanha da Fraternidade, especialmente quando ecumênica, pretende resgatar e dinamizar o respeito, a comunhão o diálogo e a cooperação entre os diversos grupos e segmentos sociais e eclesiais. Ela sinaliza que o diálogo é o melhor testemunho do Evangelho. “A fé nos lembra que Cristo é nossa paz, e nos anima a prosseguir pelo caminho da unidade na diversidade”. Neste ano, seu objetivo é convidar as comunidades e pessoas de boa vontade a “pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para superar as polarizações e violências através do diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade” (Texto-Base, § 3).

Jesus nunca orientou seus discípulos/as a criar inimizade e competição, ou a perseguir outras pessoas em seu nome. A diversidade de expressões humanas, cristãs e religiosas não é ruim, mas sinal do imenso e irrestrito amor de Deus pela humanidade. No Evangelho “não há nada que justifique a inimizade e a anulação da diversidade humana” (Texto-Base, § 22; c f. § 9). Por isso, precisamos hoje acolher com verdadeira disposição a exortação de Paulo: “Deixai-vos reconciliar com Deus”, e não recebais em vão a graça de Deus.

Deus e Pai, nós vos louvamos pelo vosso infinito amor e vos agradecemos por ter enviado Jesus. Ele veio trazer paz e fraternidade à humanidade dividida e viveu relações marcadas pela comunhão, solidariedade e misericórdia. Derrama sobre nós o Espírito Santo, para que acolhamos seu projeto e sejamos construtores de uma Igreja fraterna e inclusiva e de uma Igreja e um país livre da intolerância, da injustiça e da violência, violência, para que cresça o vosso Reino de colaboração, unidade e paz. Amém! Assim seja!

Itacir Brassiani msf

Profecia de Joel 2,12-18 | Salmo 50 (51) | Segunda Carta de Paulo aos Coríntios 5,20-6,2 |  Evangelho  de São  Mateus 6,1-6.16-18

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