Queridos
irmãos e irmãs do Brasil!
Com
o início da Quaresma, somos
convidados a um tempo de intensa reflexão e revisão de nossas
vidas. O Senhor Jesus, que nos convida a caminhar com Ele pelo deserto rumo à
vitória pascal sobre o pecado e a morte, faz-se peregrino conosco também nestes tempos
de pandemia. Ele nos convoca e convida a orar pelos que morreram, a
bendizer pelo serviço abnegado de tantos profissionais da saúde e a estimular a
solidariedade entre as pessoas de boa vontade. Convoca-nos a cuidarmos
de nós mesmos, de nossa saúde, e a nos preocuparmos uns pelos outros,
como nos ensina na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Precisamos
vencer a pandemia, e nós o faremos à medida em que formos capazes de superar as
divisões e nos unirmos em torno da vida. Como indiquei na recente Encíclica Fratelli tutti, “passada a
crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em
novas formas de autoproteção egoísta” (n. 35). Para que isso não ocorra, a Quaresma
nos é de grande auxílio, pois nos chama à conversão através da oração, do jejum
e da esmola.
Como
é tradição há várias décadas, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade, como um auxílio concreto para a vivência
deste tempo de preparação para a Páscoa. Neste ano de 2021, com o tema
“Fraternidade e Diálogo: compromisso de
amor”, os fiéis são convidados a sentar-se a escutar o outro e, assim,
superar
os obstáculos de um mundo que é muitas vezes um mundo surdo. De fato,
quando nos dispomos ao diálogo, estabelecemos um paradigma de atitude
receptiva, de quem supera o narcisismo e acolhe o outro. E, na base
desta renovada cultura do diálogo está Jesus que, como ensina o lema da
Campanha deste ano, é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade (Ef 2,14).
Por
outro lado, ao promover o diálogo como compromisso de amor,
a Campanha da Fraternidade lembra que
são
os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do
diálogo ecumênico. Certos de que “devemos sempre lembrar-nos de que
somos peregrinos, e peregrinamos juntos”, no diálogo ecumênico podemos
verdadeiramente “abrir o coração ao companheiro de estrada sem medos nem desconfianças,
e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único
Deus” (Evangelii gaudium, 244). É,
pois, motivo de esperança, o fato de que este ano, pela quinta vez, a
Campanha da Fraternidade seja realizada com as Igrejas que fazem parte do
Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).
Desse
modo, os cristãos brasileiros, na fidelidade ao único Senhor Jesus que nos
deixou o mandamento de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo
13,34), e partindo do reconhecimento do valor de cada pessoa humana como
criatura chamada a ser filho ou filha de Deus, oferecem uma preciosa
contribuição para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na
sociedade (Fratelli tutti, 271).
A fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de
dialogar, encontrar pontos de união e os traduzir em ações em favor da vida, de
modo especial, a vida dos mais vulneráveis. Desejando a graça de uma frutuosa Campanha da Fraternidade Ecumênica,
envio a todos e cada um a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar
por mim.
Roma,
São João de Latrão, 17 de fevereiro de 2021
Franciscus
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