quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

O Evangelho do Ano Novo (Pagola) - 01.01.2022

DEUS ENCARNADO

O Natal obriga-nos a rever ideias e imagens que costumamos ter de Deus, mas que nos impedem de nos aproximarmos do seu verdadeiro rosto. Deus não se deixa aprisionar nos nossos esquemas e padrões de pensamento. Ele não segue os caminhos que lhe definimos. Deus é imprevisível.

Imaginamos Deus forte e poderoso, majestoso e onipotente, mas ele oferece-se a nós na fragilidade de uma criança fraca, nascida na mais absoluta simplicidade e pobreza. Quase sempre o colocamos no extraordinário, no prodigioso e no surpreendente, mas ele apresenta-se no cotidiano, no normal e no ordinário. Nós o imaginamos grande e distante, e ele se faz pequeno e próximo de nós.

Este Deus encarnado no filho de Belém não é o que nós teríamos esperado. Não está à altura do que teríamos imaginado. Esse Deus pode nos decepcionar. No entanto, não é precisamente este Deus próximo que necessitamos junto de nós? Não é esta proximidade com o humano que melhor revela o verdadeiro mistério de Deus? Não se manifesta na fraqueza dessa criança, a sua verdadeira grandeza?

O Natal lembra-nos que a presença de Deus nem sempre responde às nossas expectativas, visto que nos é oferecida onde menos a esperamos. Certamente devemos procurá-lo na oração e no silêncio, na superação do egoísmo, na vida fiel e obediente à sua vontade, mas Deus pode se nos oferecer quando quer e como quer, mesmo naquilo que nos parece mais vulgar e comum da vida.

Agora sabemos que podemos encontrá-lo em qualquer ser indefeso e fraco que precise da nossa acolhida. Pode estar nas lágrimas de uma criança ou na solidão de um idoso. No rosto de qualquer irmão podemos descobrir a presença desse Deus que quis encarnar-se no humano.

Esta é a fé revolucionária do Natal, o maior escândalo do Cristianismo, expresso de forma lapidar por Paulo: “Cristo, apesar da sua condição divina, não se apegou à sua categoria de Deus; pelo contrário, despojou de sua posição e assumiu a condição de servo, tornando-se um entre muitos e apresentando-se como um simples homem” (Filipenses 2,6-7).

O Deus cristão não é um Deus desencarnado, distante e inacessível. É um Deus encarnado, próximo, vizinho. Um Deus que podemos tocar, de alguma forma, sempre que tocamos o humano.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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