Qual é a Palavra que se fez carne e mora em nós?
A Palavra de Deus se fez carne e quis morar entre nós. O Poder de Deus
se fez fragilidade e nos consolou em nossos insuperáveis limites. A Promessa de
Deus se fez acontecimento e deu fundamento à nossa esperança. Deus abandonou
para sempre os palácios da inacessibilidade e se aproximou do humano ser,
revelou que é pai e não lhe agradam os espíritos puros nem o puro espírito. Assumindo
a história e suas tensões, Deus se revelou boa notícia a ser acolhida com fé e
anunciada com os pés, com as mãos, com o corpo inteiro.
Tudo isso se condensa naquela cocheira onde os animais buscavam
alimento, naquela mesa na qual Jesus se repartiu e entregou sacramentalmente,
naquela cruz onde ele radicalizou a doação de si mesmo e selou a aliança que
Deus firma e confirma com a humanidade. Em Jesus, Menino e Profeta, a lei (do
eterno retorno, de levar vantagem em tudo, de quem pode mais chora menos)
perdeu sua legitimidade, e nós é dada graça sobre graça, pois a verdade deixou
de ser veredicto que nos condena. Nele, e no seu frágil corpo de bebê, o que
fora promessa fez-se palpável e adquiriu glória e esplendor. E o humano é
adorado até pelos anjos!
Benditos e belos são os pés dos homens e mulheres que sobem montanhas e
descem abismos, percorrem estradas e atravessam mares, levando a todas as
criaturas essa boa notícia! Diante desse alegre anúncio, alicerçado na
experiência e no testemunho, até os sisudos guardas, habituados a vigiar,
denunciar e punir, exultam e cantam; e as cidades, aldeias e acampamentos em
ruínas, assim como o povo arruinado por seculares e múltiplas opressões,
despertam, abrem os olhos lacrimejantes e ensaiam passos de uma dança que lhes
parecia impossível. Belos e benditos são os pés dos discípulos missionários que
partem de Belém!
Belos e benditos são os pés e os passos de Maria, que não permaneceu
extasiada diante do anúncio do mensageiro de Deus, que não ficou dando voltas
em torno de si mesma e de seus possíveis méritos. Seus pés apressados
obedeceram à voz do seu coração e a levaram a abraçar afetuosamente Isabel, a
quem serviu e dedicou três meses de trabalho. Belos e benditos são os pés de
quem, acolhendo o entendimento do velho Zacarias, deixa-se iluminar pelo Sol da
Justiça e permite que ele dirija seus passos nos caminhos da paz. Benditos e
belos são os pés dos missionários que também hoje partem e se tornam o próximo
de muitos!
Em Nazaré e em Belém, na Galileia e em Jerusalém, o Senhor desnudou seu
santo braço aos olhos de todas as nações. No espaço doméstico e menosprezado da
casa de Isabel, contemplando as marcas da ação misericordiosa de Deus no velho
corpo de Isabel e no seu próprio e jovem corpo, Maria proclama exultante que
Deus mostra o poder do seu braço dispersando os orgulhosos, derrubando os
poderosos e exaltando os humildes. Zacarias, alguns meses depois, confirma que,
graças às mãos misericordiosas de Deus, fomos salvos e libertos do domínio dos
inimigos e da mão de todos os que nos odeiam. Belo e bendito braço de Deus!
No Menino Deus, despojadamente aninhado na manjedoura, cercado por
pessoas que não tomam distância dos ambientes miseráveis como o são grutas e
estábulos, Deus se faz corpo e carne falante e brilhante, palavra encarnada,
silente e eloquente, e lança luz sobre e revela a verdade de todo ser humano:
somos desde sempre amados e queridos por Deus, e toda a humana ação é ação de
Deus, assim como o descaso ou a agressão à pessoa humana é indiferença e
agressão ao próprio Deus. Não é esquecendo e desprezando o corpo que nos
assemelhamos a Deus, mas assumindo-o como lugar e mediação da manifestação de
Deus.
No amável mistério do Natal, somos introduzidos no dinamismo do reinado
de Deus, do corpo que se faz notícia boa, que luta e serve, que abraça e
aquece, que estremece de medo e de alegria, que se reparte em mil pedaços para
se reunificar na divina compaixão. A Palavra vem para quem a ela pertence, e
nós queremos acolhê-la, em toda a sua beleza e profundidade. Precisamos deter-nos
diante dela, da Palavra revestida de fraldas, para contemplar e compreender a
glória de Deus que nela brilha. Nela resplandece a proximidade e a
condescendência de Deus. Nela brilha a bondade e a generosidade que nos faz
humanos.
Deus despojado, Deus próximo, Deus amável! Dobrando os joelhos diante
do mistério da encarnação do teu Filho, adorando o inefável mistério do teu
amor sem limites, pedimos: descruza nossos braços, para que participem da tua
ação que liberta os oprimidos; move nossos passos, para que levem a Boa Notícia
da encarnação a todas as pessoas; imprime tua Palavra em todas as nossas
células, ações e projetos, para que sustentemos as melhores lutas e embalemos o
novo mundo na força da tua Palavra. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 52,7-10 | Salmo 97 (98) | Carta de São Paulo aos Hebreus 1,1-6 | Evangelho segundo João (1,1-18)
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