quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 12.12.2021

ATREVEMO-NOS A PARTILHAR?

Os meios de comunicação informam-nos cada vez mais rapidamente do que acontece no mundo. Conhecemos cada vez melhor as injustiças, misérias e abusos que se cometem diariamente em todos os países.

Esta informação cria em nós um certo sentimento de solidariedade para com tantos homens e mulheres, vítimas de um mundo egoísta e injusto. Inclusive pode despertar um sentimento de vaga culpa. Mas, ao mesmo tempo, aumenta a nossa sensação de impotência.

As nossas possibilidades de atuação são muito escassas. Todos conhecemos mais miséria e injustiça do que podemos remediar com as nossas forças. Por isso é difícil evitar uma pergunta, no fundo da nossa consciência, perante uma sociedade tão desumanizada: «O que podemos fazer?»

Na sua simplicidade, João Batista oferece-nos uma resposta simples e exigente, uma resposta decisiva, que coloca cada um de nós na frente da nossa própria verdade. “Aquele que tenha duas túnicas, que as reparta com o que não tem; e o que tenha comida que faça o mesmo”.

Não é fácil ouvir estas palavras sem sentir um certo mal-estar. É necessário ter coragem para as acolher. Precisamos de tempo para nos deixarmos interpelar. São palavras que fazem sofrer. Aqui termina a nossa falsa boa vontade. Aqui se revela a verdade da nossa solidariedade. Aqui se dilui o nosso sentimentalismo religioso. O que podemos fazer? Simplesmente partilhar o que temos com os que necessitam.

Muitas das nossas discussões sociais e políticas, muitos dos nossos protestos e gritos, que com frequência nos dispensam de uma ação mais responsável, ficam reduzidas subitamente a uma pergunta muito simples. Atrevemo-nos a partilhar aquilo que temos com os necessitados?

Acreditamos ingenuamente que a nossa sociedade será mais justa e humana quando os outros mudarem, e quando se transformem as estruturas sociais e políticas que nos impedem de sermos mais humanos. Mas as palavras do Batista obrigam-nos a pensar que a raiz das injustiças está também em nós. As estruturas refletem bastante bem o espírito que nos anima a quase todos. Reproduzem com fidelidade a ambição, o egoísmo e a sede de possuir que há em cada um de nós.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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