OLHARES
No evangelho de hoje
Jesus nos brinda com uma parábola cheia de contrastes, que tem como objetivo
surpreender e causar um grande impacto nos ouvintes. Os personagens são dois:
um anônimo (sem nome, para que possamos nos ver nele), muito rico, insensível,
encerrado em suas riquezas e em sua abundância; outro, com nome próprio
(Lázaro, que significa ‘Deus ajuda’). É a única parábola em que um personagem
tem um nome. Parece que a pobreza tem rosto, e é concreta. A chave para a
compreensão está na diferença do olhar dos personagens. O rico não é capaz de
ver o que está à sua própria porta. O olhar é o primeiro passo para conhecer a
realidade. Toma consciência é o início da mudança de perspectiva. Como é nosso olhar: sensível ou indiferente,
duro ou compassivo, comprometido ou evasivo? Abrimos nossos olhos para
reconhecer as pessoas e grupos “invisíveis”, aquelas às quais ninguém dá
atenção? Quem está hoje ao lado de nossas casas, em nossas ruas, à porta das
nossas igrejas, em nossas praças, e não nos damos conta? Quem são hoje os novos
lázaros, que jazem no umbral de nossa vida?
ABISMOS
O que chama a atenção na
parábola é a referência aos enormes abismos que separam os dois personagens. É
um convite a refletir sobre quais são esses abismos que nos dividem, provocam
dores e feridas, injustiças e desigualdades: abismos entre ricos e pobres,
bem-estar e carências, austeridade e caprichos, indiferença e necessidade,
inclusão e exclusão, engajamento e conformismo, harmonia e conflito... Que abismos descobrimos em nosso mundo, em
nossa sociedade e em nossa Igreja? Estamos colaborando para que diminuam, ou
ajudo para que aumentem? Trabalhamos para criar pontes de relação e
possibilitar encontros, diálogo, comunicação e colaboração? Sentimos que também
nós temos colaborado para manter a desigualdade?
GESTOS
A parábola nos pede
gestos de transformação ativa, que passemos da globalização da indiferença à
globalização da solidariedade, como diz o Papa Francisco. Pede-nos que passemos
da indiferença à sensibilidade, do olhar superficial ao olhar profundo, dos
ouvidos fechados à escuta atenta, do esbanjamento a uma vida sóbria, da vida
despreocupado ao sentimento de responsabilidade, do acúmulo egoísta à grandeza
na generosidade, do passar ao lado a estender a mão, do conformismo ao
comprometimento. São pequenos gestos cotidianos que podem criar espaços e
devolver a esperança a quem a perdeu.
PRECE
Põe tua luz no meu olhar, para que vislumbre
corretamente e aprenda a ver quem se aproxima da porta da minha casa. Põe tua sensibilidade
em minhas entranhas, para que eu não seja indiferente ao que acontece ao meu
lado e perceba onde minha ajuda é mais necessária. Põe em meus ouvidos o
murmúrio da tua Palavra que convida a uma vida mais sóbria e solidária,
compassiva e misericordiosa, inclusiva e generosa. Põe em meus movimentos a
orientação adequada, para que eu não percorra caminhos que não conduzem a nada
e me distanciam daquilo que verdadeiramente tem importância. Põe tua
intensidade nas horas da minha jornada para povoá-las de presenças que ajudam e
acompanham, criando pontes, derrubando muros e favorecendo encontros que
encurtam distâncias. Amém!
Pe. Fernando López Fernández msf
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