A Palavra de Deus adverte os opressores e exploradores.
A parábola
que Jesus nos apresenta hoje é complexa. Para entendê-la, precisamos ter
presente as parábolas que lemos e meditamos no domingo passado. São
inesquecíveis as figuras do pastor que sai pressuroso ao encontro da ovelha que
se perdeu e da mulher que varre atentamente a casa em busca da moeda
extraviada. E como esquecer a figura daquele pai que esbanja atenção, dinheiro
e compaixão na festa de acolhida do filho que chegara a disputar comida com os
porcos?
A parábola de
hoje coloca em evidência um protagonista muito diferente: um administrador
acusado de esbanjar os bens do patrão e que, por isso, está ameaçado de
demissão. Ciente de que não está preparado para assumir outro trabalho, e
recusando-se a pedir esmolas, o administrador esbanjador age com esperteza e
rapidez: altera, em favor dos devedores, o montante de algumas contas,
prejudicando mais ainda seu patrão! Faz isso movido pela esperança de que, no
futuro, os devedores por ele beneficiados retribuam solidariamente seu gesto de
bondade.
O que
surpreende e desconcerta é que a esperteza desonesta do administrador seja
explicitamente elogiada pelo patrão (e pelo próprio Jesus). Há quem explique o
elogio a esta estratégia imoral levantando a hipótese de que o desconto dado
pelo administrador corresponderia aos juros iníquos cobrados pelo credor ou à
comissão à qual o administrador teria direito. Mas será que Jesus não está
propondo outra mensagem, semelhante àquela do pai que gasta sem critérios para
acolher e restabelecer a dignidade do filho que havia caído ao degrau mais
baixo do inferno social?
A questão
fundamental que Jesus apresenta com esta parábola poderia ser formulada da
seguinte maneira: Como usar de forma evangelicamente correta os bens, as honras
e o prestígio que temos? A palavra corajosa de Amós traz à luz do dia as
práticas de acúmulo que os ricos de todos os tempos tentam esconder nas sombras
da noite ou nas franjas da hipocrisia mais deslavada. Mas Jesus também deixa
claro que somos apenas administradores de bens que não nos pertencem e que,
frente ao bem maior do Reino de Deus, o dinheiro é coisa de pouco valor e
radicalmente injusta.
O
administrador aparentemente desonesto é elogiado porque evita ser amigo do dinheiro
(como o eram os fariseus) e se mostra amigo das pessoas, não das que
contabilizam créditos, mas das devedoras insolventes. Com ele, nós aprendemos
que o dinheiro e demais bens que passam pelas nossas mãos, bolsas e contas não
nos pertencem e precisam ser usados corretamente: para construir solidariedade,
para beneficiar a pessoa humana (todas as pessoas, insiste Paulo), começando
pelas mais necessitadas. É isso é o contrário do que fazem os comerciantes de Amós!
Aquilo que, à
primeira vista, parece esbanjamento e desonestidade é, na verdade, sabedoria
evangélica. Precisamos assumir nossas responsabilidades no mundo da economia
com critérios evangélicos. E o critério fundamental é este: ou os bens estão a
serviço de uma convivência social sadia e solidária, ou não servem para nada! E
desviar para os bens econômicos o amor e o afeto que devemos às pessoas é uma
loucura que compromete nossa felicidade pessoal e destrói os laços sociais. Só
o uso solidário pode lavar o dinheiro que sempre traz as marcas do egoísmo.
O próprio
Jesus veio ao mundo como herdeiro e administrador das coisas do Pai, e não fez
outra coisa que cancelar os débitos das pessoas que os sistemas criminalizam.
Ele esbanjou os bens do Pai, inclusive a própria vida, para fazer amigos entre
os excluídos! Ele não teve receio de comprometer a honra, o nome e a ortodoxia
para fazer amigos. Mas, infelizmente, muitas Igrejas ainda dão a impressão de que
existem unicamente para aumentar os débitos ou cobrar comissão para renegociar
as dívidas deles. Em vez libertá-los, engordam suas próprias contas bancárias.
Senhor, tua Palavra é caminho de sabedoria.
Queremos guardá-la e pô-la em prática em todas as circunstâncias da nossa vida.
Ensina-nos a avaliar corretamente o valor das coisas. Dá-nos a coragem de desmascarar
os males que nos apresentam em sedutoras embalagens. Confirma-nos no serviço a
ti, único e supremo bem, e àqueles que são excluídos da mesa e recebem apenas
as migalhas que sobram. Ajuda-nos a gastar tudo o que temos e somos para fazer
amigos e irmãos, retirando os pobres do lixo e fazendo-os sentar entre os
nobres do teu povo. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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