A missão em terras equatoriais
Nas terras equatoriais, o barco é sempre indispensavel. |
Continuamos realizando nossa visita
aos coirmãos que vivem e trabalham na diocese de Palangka Raia. Na verdade, uma
das comunidade à qual pertencem os coirmãos que vivem na
sede da diocese tem sede em Sampit, cidade portuária situada às margens do rio
do mesmo nome, a 4 horas (ou 230 km) de Palangka Raya. (A outra, está na região
de Ampah, que conheceremos em seguida). Foi nessa região que a Congregação celebrou
seu debut na missio ad gentes em sentido estrito, lá no longínquo
1926. Daqui os missionários provindos da Holanda, da Alemanha e, mais tarde e
em menor número, da Polônia, se espalharam pelos territórios de Kalimantan e de
Java.
Além do bispo Dom Aloísio
Sutrisnaatmaka, vários outros coirmãos das Províncias
de Kalimantan e de Java vivem e trabalham nessa região. Entre eles, dois estão
diretamente a serviço da diocese e do bispo: Pe. Timóteo I Ketut Adi Hardana,
da Província de Kalimantan, que nos acompanha como tradutor e motorista,
trabalha como secretário geral da diocese; Pe. Andreas Tri Adi Kumiawan, membro
da Província de Java, atua como ecônomo diocesano. Ambos também contribuem,
juntamente como o Pe. Garinsingan, do qual falarei mais tarde, como professores
na Escola Superior de Formação Cristã mantida pela diocese.
|
Nossa visita se desenvolveu num
ritmo pouco saudável. Depois de apenas um dia em Palangka Raya, partimos para a
visita aos coirmãos que vivem e trabalham nas paróquias de Parenggean e Sampit.
Em Parenggean, depois de 5 horas de viagem, parte da qual numa estrada
absolutamente intransitável, encontramos nosso coirmão Pe. Aloisius
Darmakusuma, que vive e trabalha sozinho nessa pequena cidade cercada de
imensas plantações de babaçu. Como tantos, ele vem de família mussulmana, e sua
mãe só se tornou cristã alguns anos após sua ordenação.
Como ser verdadeira imagem do Bom Bastor? |
Depois de ouvir algo sobre sua vida
e seu trabalho, o sentimento é concomitantemente de alegria e de compaixão:
alegria por sua dedicação incansável às 32 comunidades dispersas que compõem a
paróquia, que distam até 120 km da sede e exigem até 6 horas de viagem, por
causa das péssimas estradas; pena e compaixão pelo desgaste físico e emocional
que isso significa. Menos mal que ele conta com a presença e a colaboração de
algumas religiosas e muitos leigos/as, como o presidente do Conselho de
Pastoral, que esteve todo o tempo conosco. Este é um jovem descendente de
chineses, cujo pai era confucionista e cuja mãe era evangélica...
Saímos de Parenggean às 17:00,
fazendo de novo o trecho precário da estrada que havíamos percorrido, e
viajamos em direção a Sampit, onde chegamos às 20:00. Lembro de passagem
estávamps pouco abaixo da linha do equador – o que significa que o clima, a
umidade e o calor, os rios e a terra arrenosa, a vegetação e os insetos – se
assemelham àquilo que encontramos na conhecida Amazônia, particularmente na
nossa missão de Carauari e Itamarati. Mas existem algumas diferenças: aqui a
mata original já foi destruída há várias décadas pelas madeireiras; a região é
bastante populosa; existem estradas surpreendentemente transitáveis.
Em Sampit nos esperava ansioso o Pe.
Franciscus Salianus Hendysaputra. Este jovem e simpático coirmão trabalha aqui
há menos de dois anos, ajudado por um coirmão da província de Java (Pe. Yosef
Prasetya Tjoek) e, a partir da nossa chegada, por um diácono em estágio
pastoral. Nasceu nas proximidades de Sampit, que hoje tem mais ou menos 60.000
habitantes, e sua família foi a primeira da vila a receber o batismo. Hoje Pe.
Hendy anima uma paróquia com 27 comunidades e aproximadamente 4.500 católicos.
Estudantes da Escola Paroquial de Sampit |
O Pe. Hendy recebeu como herança do
coirmão Pe. Willibal Pfeuffer, missionário alemão que por aqui fez história e
faleceu em dezembro último, uma paróquia bem organizada e com uma grande
infra-estrutura. Além de uma ampla e confortável casa paroquial, a paróquia é
proprietária de um ambulatório médico que atende mais de 60 pessoas por dia, de
uma escola profissional de mecânica e marcenaria e de uma enorme e bela escola
de ensino fundamental e secundário, inclusive com internato para os alunos que
necessitam. É um sinal vivo do empreendedorismo de uma certa leva de
missionários, assim como da antiga e cultivada “devoção a são marcos”. Tudo
isso acabou passando às mãos das diocese e agora, com a morte do idealizador
desse imenso projeto e com a diminuição das fontes exteriores, o desafio é como
mantê-lo.
Fui a primeira pessoa a dormir no quarto ocupado
durante décadas e deixado recentemente pelo falecido missionário. O pároco
resistia até a entrar nele... De fato, tanto no quarto quanto no gabinete de
trabalho, tudo está como ele deixou antes de ser hospitalizado em setembro
passado. De todos os modos, dormi muito bem e espero que desta estadia eu possa
levar um pouco da coragem e dedicação de um homem que, conservando os limites e
ambiguidades que todos compartilhamos como pessoas e cristãos, deixou sua terra
majoritariamente cristã e economicamente desenvolvida para se embrenhar neste
mundão de maioria mussulmana, construir desde o alicerce a comunidade e as
estruturas católicas e, finalmente, entregar a esta gente também seu último
suspiro.
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário