A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é signatária de uma Carta das Religiões sobre o
cuidado da Terra. O documento foi elaborado e aprovado
por iniciativa da Comisssão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo
Interreligioso no espaço da Coalizão Ecumênica Interreligiosa "Religiões por Direitos"
durante a Cúpula dos Povos na Rio + 20.
CARTA DAS RELIGIÕES E O CUIDADO DA TERRA
No Espaço da Coalizão Ecumênica e Inter-religiosa "Religiões por Direitos", no quadro da Cúpula dos Povos na Rio+20 para
a Justiça Social e Ambiental, contra a mercantilização da vida
e em defesa dos bens comuns, os líderes religiosos do Brasil signatários, por
iniciativa da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo
Interreligioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e
de Religiões pela Paz,
reuniram-se para debater a relação entre as religiões e as questões
ambientais. Como resultado do diálogo, concordou-se que a agenda das
religiões na atualidade não deve desconsiderar a agenda do cotidiano da vida
das pessoas na sociedade e das exigências da justiça ambiental.
A agenda das religiões deve
incluir os elementos que traçam os projetos do ser humano na busca de
realização da sua existência e afirmar compromissos efetivos com a defesa da
vida no planeta. Religiões, sociedade e meio ambiente não são realidades
distanciadas, mas estreitamente correlatas. As tradições religiosas
contribuem para a ampliação da consciência dos seus seguidores sobre os valores
fundamentais da vida, pessoal, social e ambiental, orientando para a
convivência pacífica e respeitosa entre os povos, culturas e credos, e destes
com toda a criação.
Assim, é fundamental na
agenda das tradições religiosas hoje:
a)
Apresentar ao mundo o
sentido da existência humana. A humanidade vive momentos de pessimismo,
com sensação de fracasso e desânimo, sobretudo nas situações e ambientes de
crises econômicas, de injustiças, de violência e de guerras. Comprometemo-nos
em fazer com que as nossas tradições religiosas afirmem de modo concreto o
valor da vida de cada pessoa, independente da sua condição social, religiosa,
cultural, étnica e de gênero, ajudando-as na superação dos problemas que lhes
afligem no cotidiano, sejam eles de caráter sócio-econômico-cultural e
político, sejam eles de caráter pisíquico-espiritual.
b) Afirmar juntos o valor sagrado da vida, sobretudo do
ser humano, considerando as diferenças nas formas de compreensão e de
explicitação desse valor. Comprometemo-nos em promover um efetivo respeito pela
dignidade da pessoa e dos seus direitos acima de interesses econômicos,
culturais, políticos e religiosos. Afirmamos que crer em um Ser Criador
implica em desenvolver uma espiritualidade que tenha compromisso com a promoção
e defesa da vida human, pois o ser humano é a razão do serviço religioso que
nossas tradições de fé oferecem ao mundo.
c)
Promover a educação e a
prática do respeito mútuo, do diálogo, da convivência pacífica e da cooperação
entre as diferenças, fundamental no mundo plural em que vivemos. Assumimos o
compromisso de trabalhar para a convergência dos diferentes paradigmas
culturais e religiosos dos povos, como uma possibilidade para melhor
entendermos o mundo dentro de suas inter-relações e a convivência entre todos
os seres humanos.
d) Explicitar mais e melhor o que já possuímos em
comum. Nossas tradições já condividem valores religiosos, como a fé em um
Ser Criador, o cultivo da relação com Ele, a compreensão da origem e do fim de cada
pessoa. Comprometemo-nos a partilhar as riquezas que possuímos para fortalecer
as relações inter-religiosas que possibilitam a cooperação entre os credos na
solução dos problemas que afligem o nosso país e o mundo em que vivemos.
e)
Discernir juntos os valores
que constroem a paz no mundo. Sabemos que a paz não é simples ausência da
guerra, mas é fruto da justiça e da prática da caridade. Comprometemo-nos na
promoção da convivência pacífica entre os povos e o desenvolvimento do sentido
da fraternidade e da solidariedade universal, superando todo fundamentalismo e
exclusivismo, bem como o consumismo irresponsável que causam conflitos entre as
pessoas e os povos.
f)
Viver a compaixão para com
os mais necessitados, empobrecidos e excluídos da sociedade. Assumimos realizar
juntos projetos sociais que fortalecem a solidariedade nas comunidades religiosas
e na família humana.
g)
Promover o valor e o cuidado
da criação. Tomamos conhecimento das ameaças à vida do planeta, conseqüências
dos interesses econômicos que constroem uma cultura utilitarista e consumista
na sociedade em que vivemos. Comprometemo-nos com o desenvolvimento de uma nova
ética na relação com o meio ambiente, capaz de orientar novas atitudes
defensoras de todas as formas de vida, sustentadas em políticas públicas de
justiça ambiental e numa mística/espiritualidade que explicite a gratuidade e o
dom da vida na criação.
h) Contribuir efetivamente para com as iniciativas
ligadas à construção e promoção da cidadania. Comprometemo-nos na qualificação
de uma vivência religiosa dos membros de nossas tradições que favoreça o
convívio social dos credos, a afirmação da tolerância e da liberdade religiosa.
i)
Solicitar à Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20 reconhecer que os imperativos morais
de todas as religiões, convicções e crenças exigem o cuidado da Terra, e que a
cooperação inter-religiosa é uma dimensão imprescindível para alcançarmos o
desenvolvimento sustentável de toda a humanidade. Enfim, propomos-nos a
desenvolver novos comportamentos, com prevalência da ética da tolerância, da
liberdade, do respeito, da dignidade, da convivência da diversidade cultural e
religiosa, dos direitos humanos. São elementos de uma ética mínima
que devemos afirmar tanto a partir de uma consciência ética secular, como
da consciência das convicções religiosas que possuímos.
Rio de Janeiro, 19 de junho de 2012
Exmo. e
Revmo. Dom Francisco Biasin (Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o
Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso daConferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB)
Rev. Pe. Peter Hughes (Secretário Executivo do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM)
Revmo. Dom Francisco de Assis da Silva (Primeiro Vice-presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
Rev. Dr. Walter Altmann (Moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)
Rev. Nilton Giese (Secretário Geral do Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI)
Rabino Sergio Margulies (Representante da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ)
Sami Armed Isbelle (Diretor do Departamento Educacional e de Divulgação da Sociedade Beneficente Mulçumana do Rio de Janeiro (SBMRJ)
Ialorixá Laura Teixeira (Coordenadora Estadual do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileiras - Rio de Janeiro (INTECAB)
Irmã Jayam Kirpalani (Direitora Européia da Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris)
Elias Szczytnicki (Secretário Geral e Diretor Regional de Religiões pela Paz América Latina e o Caribe)
Rev. Pe. Peter Hughes (Secretário Executivo do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM)
Revmo. Dom Francisco de Assis da Silva (Primeiro Vice-presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
Rev. Dr. Walter Altmann (Moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)
Rev. Nilton Giese (Secretário Geral do Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI)
Rabino Sergio Margulies (Representante da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ)
Sami Armed Isbelle (Diretor do Departamento Educacional e de Divulgação da Sociedade Beneficente Mulçumana do Rio de Janeiro (SBMRJ)
Ialorixá Laura Teixeira (Coordenadora Estadual do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileiras - Rio de Janeiro (INTECAB)
Irmã Jayam Kirpalani (Direitora Européia da Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris)
Elias Szczytnicki (Secretário Geral e Diretor Regional de Religiões pela Paz América Latina e o Caribe)
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