segunda-feira, 18 de junho de 2012

Kalimantan: impressões, emoções e reflexões (7)

Um canteiro de obras



Nossa visita à Província de Kalimantan prosseguiu, mais veloz do pedem o amor pastoral e a prudência, mais intensa do que esperávamos. Retornamos da diocese de Palangka Raya, comunidade de Ampah (Kalimantan Central), no domingo à tardinha (11 de março). Depois de um breve e benfazejo descanso – e depois de ter lido os e-mails e enviado os últimos três relatos – iniciamos a viagem para visitar as comunidades de Samarinda e Sendawar, em Kalimantan Oriental. Para os leitores desatentos, chamo a atenção nossa visita se desenvolve em apenas uma das quase 13.000 ilhas que compõem o país da Indonésia!
Pe. Santiago no aeroporto de Balikpapan
Nosso vôo para Balikpapan deveria partir de Banjarmasin às 14:00. Saímos de casa ao meio-dia e a ansiedade logo tomou conta de nós diante do engarrafamento que enfrentamos na estrada para o aeroporto. Nossos anfitriões estavam tranquilos, pois estão habituados a isso que é mais que uma eventualidade. Na verdade, por todo lado – e mais ainda nas cidades médias e grandes desse país – o que vemos é uma verdadeira avalanche de carros e motos que se ultrapassam e cruzam por todos os lados. Não consigo nem imaginar-me guiando por aqui. Seria fatal! Além do tráfego intensíssimo, do grande movimento de pedestres, das barracas e tendas entrando estradas e ruas adentro, das paradas em plena via pública, tem a questão do volante no lado direito, o que inverte tudo.
Destaquei que nosso vôo para Balikpapan (pela Sriwijaya Airdeveria partir às 14:00, porque já no check-in ficamos sabendo que atrasaria 90 minutos.  Acabamos partindo com quase duas horas de atraso. Menos mal que tínhamos conosco o nosso caro Garinsingan, que continua acompanhando-nos como tradutor. O vôo durou 45 minutos (de carro seriam mais de 11 horas e, de ônibus, em torno de 15 horas de viagem). Assim, às 16:45 aterrizamos na cidade de Balikpapan, no litoral noroeste da ilha de Kalimantan.
Balikpapan é uma bela e moderna cidade portuária, com aproximadamente 470.000 habitantes e um percentual de 2% de católicos. Sobrevoando os arredores da cidade, vê-se logo o que a faz assim: seu litoral é literalmente tomado por centenas de poços de prospecção de petróleo. A cidade é contemplada com uma imensa bacia petrolífera, explorada por empresas nacionais e estrangeiras. É o principal pólo petrolífero da Indonésia (aqui o diesel é vendido nos postos ao equivalente a R$ 0,80, e custa menos que um litro de água!). Pelo que vimos, Balikpapan tem pouco a ver com as demais cidades indonesianas que conhecemos: ruas e avenidas largas, prédios modernos, shoping’s-center’s, pouco comércio na rua, muito limpa...
A cidade faz parte da diocese de Samarinda, coordenada há várias décadas por bispos originários da Congregação. Em Balikpapan existem três paróquias, duas das quais são animadas pelos Missionários da Sagrada Família. As duas estão com grandes obras em pleno andamento: a paróquia São Martinho, que está levantando uma igreja-matriz de dois pisos (o térreo para secretaria, salas e residência paroquial ; o piso superior propriamente para o templo, com 800 lugares!); a paróquia Santa Teresa, que está concluindo uma luxuosa casa paroquial de três pisos e 14 apartamentos e colocando os fundamentos de um templo para 1.200 pessoas, com um amplo estacionamento na parte inferior.
Do aeroporto fomos conduzidos pelo jovem e amável Pe. Petrus Prillion à paróquia São Martinho. Como a igreja e a casa paroquial estão em reforma e construção, fomos acolhidos pelo Pe. Lucas Thomas Atsui na casa onde ele mora e onde funciona provisoriamente a secretaria (uma casa emprestada por um generoso paroquiano). O Pe. Lucas vem de uma família praticava a religião tribal (que os sociólogos da religião denominam simplesmente “religiões animistas”) e recebeu o batismo em 1968, quando ele tinha 12 anos. Ali, ele atende sozinho as 18 comunidades (14 delas estão na cidade!) que compõem a paróquia, num total aproximado de 2.000 fiéis.
O encontro com o Pe. Atsui teve que ser abreviado por causa do nosso atraso e dos seus compromissos pastorais. Assim, o Pe. Prillon nos levou até a casa das Irmãs Missionárias Adoradoras da Sagrada Família (MASF, fundadas em 1936 pelo Pe. Anton Maria Trampe, então nosso Superior Geral). Como também a outra casa paroquial está em reformas, recorremos aos velhos laços de gênese e de hospitalidade... Na verdade, elas colaboram muito com nossos coirmãos na Indonésia, e a fraterna acolhida que recebemos não foi de ocasião. Registro de passagem que esta Congregação foi recentemente dividida em três, por uma imposição do grupo europeu: Indonésia, Madagascar e Europa. A parte Indonesiana ficou com 60 irmãs, distribuídas em cinco comunidades.
Irmãs Missionarias Adoradoras da Sagrada Familia
À noite, nossos coirmãos Prillon e Huvang nos levaram a um restaurante especializado em frutos do mar. Acompanharam-nos duas irmãs da casa e três membros do conselho de pastoral da paróquia. Os peixes estavam simplesmente deliciosos, mas não quero saber o tamanho da conta! O restaurante fica numa área de acesso restrito, cujo ingresso se faz mediante pagamento... Na verdade, o que vimos é que nesta região os católicos são praticamente da elite econômica, o que faz com que o círculo de amizade e o estilo de vida dos nossos coirmãos se situe também nessa elite. As casas, os carros e os hábitos de consumo o demonstram claramente.
Depois da celebração da missa matinal na comunidade das irmãs MASF (às 6:00!) e de um bom café da manhã, fomos visitar a residência dos padres Huvang e Prillon. Pe. Franciscus Xaverius Huvang Hurang, 68 anos, foi Superior Provincial de Kalimantan, e nos conhecemos em 1999, na Polônia. Ele dirige a Paróquia Santa Teresa, que conta com 9 comunidades e mais ou menos 3.000 fiéis (e a igreja matriz abrigará 1.200 de uma só vez!). Ele tem um apreço especial pela pastoral da família (é assistente diocesano do movimento Mariage Encounter) e pela inculturação da liturgia.
Almoço com Pe. Prillon e Pe. Huvang
O jovem Pe. Petrus Prillon, 35 anos, acaba de chegar à paróquia, depois de colaborar cinco anos na formação dos postulantes e na secretaria provincial. Ele fez parte do segundo grupo de estudos da língua francesa, em Chaponost, com Pablo e Firmino, no ano 2005. Disse-nos que aquele ano, logo nas primícias do seu ministério presbiteral, foi uma espécie de segundo noviciado, desta vez com uma indispensável abertura internacional. Pe. Prillon ajudou 5 anos na formação porque crê, como ensinou Berthier, que é mais missionário quem forma missionários que aquele que vai à missão. No seu jeito alegre e cativante, insiste que a Congregação deve propor mais encontros em âmbito internacional, como um caminho para superar a tentação do fechamento das Províncias em si mesmas.
Depois do almoço, sob o calor de sempre, passamos pela casa das irmãs, pegamos nossas malas – não sem antes deixar no quarto que voltaremos a ocupar algumas peças desnecessárias – e partimos para Samarinda, sede da diocese, onde nos esperavam três coirmãos e o bispo. Depois de três horas de estrada, chegamos a esta bela e dinâmica cidade portuária. Pelo imenso rio Mahakan, além de gente, descem rumo ao mar imensas balsas carregadas de madeira e imensas e incontáveis balsas repletas de carvão mineral, uma riqueza abundante na região e cobiçada pelos países com forte dinamismo industrial.

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