Talvez devêssemos aproveitar este tempo pascal para uma confissão. E
começaríamos com as seguintes palavras:
“Assim somos nós, Senhor... Chegamos a Jerusalém para estar entre os primeiros a te saudar com
ramos de oliveira e estender no chão nossos mantos para demonstrar que somos
teus súditos. Já o éramos, aliás, desde que alimentaste aquela multidão de um
modo que não entendemos bem...
E se fosse a um de nós que teus amigos
pedissem emprestada a sala de jantar para a Páscoa, de bom grado teríamos
oferecido não apenas a mesa e os bancos, mas o que de melhor tivéssemos em
matéria de toalha, pratos, copos, talheres, iguarias...
Mas de repente, sem
razão que explique – a não ser nossa proverbial dificuldade de ser diferentes
entre os iguais – começamos a gritar impropérios no meio da multidão à qual
Pilatos te apresenta. E, quase sem perceber, juntamo-nos ao coro dos que dizem
‘crucifica-o’, como se fosse possível trocar um criminoso contumaz por um
inocente que só fizera o bem, que incluíra os marginalizados, curara os
enfermos, anunciara o Reino aos pobres!
Levados pela massa, como quem participa de
uma passeata por convocação de seus pares, embora sem convicção acerca dos
princípios a defender, te acompanhamos na via crucis diária, indiferentes aos
necessitados, surdos aos apelos dos injustiçados, cegos aos gemidos dos que
sofrem violência, mudos diante da exploração dos indefesos...
E quando nos demos conta, já estavas erguido
entre dois malfeitores; tua vida se esvaindo, tua voz – ainda audível – pedindo
ao Pai que perdoasse teus algozes, prometendo a um dos condenados que ele seria
salvo.
E talvez devêssemos concluir suplicando que continues a nos amar com um
amor que não merecemos. Porque, embora possamos fazer promessas que quebraremos
a seguir, de uma coisa temos certeza: só tu tens palavras de vida eterna. E
delas precisamos, desesperadamente.
Ajuda-nos então a escutar voz firme e direta a nos dizer, no cenáculo
onde estamos reunidos com os nossos medos e com as nossas esperanças: ‘Paz!’ E
tenhamos, pois, como a comprovar que Tu nunca desistes de nós.”
Uma Feliz Páscoa de Ressurreição.
Maria Elisa Zanelatto
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