O pão da vida, a
comunhão, nos une a cristo e aos irmãos!
Na
Quinta-feira Santa celebramos a Aliança nova e eterna que Deus renova conosco,
seu povo amado. O próprio Jesus nos diz que preparou com esmero e desejou
ardentemente celebrar esta ceia conosco. Na mesa da eucaristia intuímos que nossa glória é trazer em nossos sonhos,
projetos e ações as marcas da cruz de Cristo, do seu amor sem fronteiras.
Neste encontro, ouvimos de novo as palavras do seu Testamento, provamos mais
uma vez seu amor e, assim, continuamos sua missão no mundo.
A ceia
eucarística é a memória de Jesus e dos discípulos e discípulas que, tendo atrás
as inesquecíveis experiências das refeições partilhadas com toda sorte de
pecadores e à frente a ameaça dos poderes que não toleram mudanças,
compartilham suor e sangue, vinho e pão, sonhos e esperanças. Celebramos esta
ceia e aceitamos a aliança que Deus nos oferece ainda “na terra do Egito”. Faz escuro, mas cantamos para despertar a
aurora. A eucaristia é alimento para quem está a caminho.
No centro
desta Ceia não está um cordeiro, mas um corpo feito inteiramente dom. No
pão-corpo, Jesus Cristo oferece a concretude de sua vida como dom e partilha. É
sua vida inteira – sonhos, ações, corpo e sangue – que ele nos dá sem reservas
e sem impor condições. E o faz numa ceia ordinária, numa refeição marcada pelo
afeto fraterno, num contexto de ameaça de morte, pedindo insistentemente que
façamos o mesmo para manter viva sua memória. “Fazei isso em memória de mim!”
O corpo
de Cristo não é apenas o pão: é também a comunidade viva dos fiéis, o povo de
Deus que ultrapassa as fronteiras eclesiásticas, o corpo dos pobres e
marginalizados que padecem suas chagas vivas. Também o corpo-Igreja é dado por
nós, para que sejamos homens e mulheres emancipados, maiores, maduros e livres
como Cristo. E isso significa encarnar a mesma atitude fundamental de amor, de
cuidado e de serviço, sem esquecer do protesto profético contra as injustiças.
Jesus
simboliza a oferta sem reservas de si mesmo no gesto de lavar os pés dos
discípulos. Depois de repartir pão e vinho, deixa a “presidência” da mesa e
assume o serviço que cabe às mulheres e crianças: lava os pés dos que estão com
ele à mesa. No seu gesto é o próprio Deus que se inclina diante da humanidade
e, de joelhos, lava nossos pés. E não o
faz para demonstrar humildade, mas para desfazer as hierarquias e afirmar a
absoluta igualdade de todos os filhos e filhas de Deus.
Pedro
reage diante desta lição de Jesus. Não lhe parece bem mudar as coisas de forma
tão radical... Para ele, senhores e superiores devem ser honrados, servos e
inferiores devem ser desfrutados; esta é a ordem e nada deve ser mudado.
Parece-lhe difícil aceitar que a Eucaristia implica em fazer-se memória viva de
Jesus Servo. E isso custa também a cada de nós... Mas Jesus não encena uma
peça: ele é verdadeiramente Servo, e a missão que compartilha conosco é o
serviço aos irmãos.
A lição é difícil e nada óbvia. É por
isso que, depois de cear e de lavar os pés dos discípulos, Jesus nos interroga:
“Compreendeis o que acabo de fazer?” E ele mesmo explica: “Vós me chamais de
mestre e senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e
mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.” Deus
coloca tudo nas mãos de Jesus, e este
“tudo” se mostra nas mãos que lavam os pés, no serviço cordial e fraterno. Eis
a lição eucarística do Mestre-Servo.
O desejo
e a ordem de Jesus é que passemos da memória verbal e ritual da Eucaristia à sua
realização histórica e vivencial: “Fazei isso em memória de mim... Se puserdes
em prática, sereis felizes.” Precisamos dar conteúdo e concretude à existencial
e social à Eucaristia no dom cotidiano pelos outros, no serviço despojado a todas as pessoas, mesmo àquelas que
aparentemente não o merecem. O Evangelho define como critério da missão a
nacessidade concreta das pessoas, e não merecimento...
Deus Pai e Mãe: teu Filho nos ensinou que
na tua mesa há lugar para todos e não falta alimento, porque tudo é partilhado.
Muito obrigado porque hoje, mais uma vez, testemunhamos que isso é verdade. Mas
te agradecemos principalmente porque nesta mesa de irmãos e irmãs aprendemos
até onde teu amor quer nos levar. Te agradecemos também pelo dom que fazes do
teu Filho na Palavra, no Pão e no Vinho e, principalmente, nas pessoas que
continuam sua missão de consolar e libertar. E te pedimos que nos mantenhas na
escola de Jesus de Nazaré, para que aprendamos a fazer o que ele fez, a amar
como ele amou, a servir como ele serviu, enfim: a fazermo-nos Eucaristia. Assim
seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Exodo
12,1-14 * Salmo 115 (116) * Primeira Carta aos Coríntios 11,23-26 * João
13,1-15)
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