Matrimônio e família: qual base e qual horizonte?
Os animadores insistiram na importância de aproveitar a semana-sante
para oferecer encontros específicos direcionados aos casais. Mesmo com uma
certa resistência interior da minha parte – devo entender o por quê! –
acertamos dois momentos: uma celebração penitencial por ocasião da missa da
terça-feira e um encontro de reflexão na quinta-feira, depois da missa da ceia
e do lava-pés.
Para a celebração penitencial da terça-feira, substituí o evangelho do
dia pela perícope de Jesus no templo, aos doze anos (Lc 2,41-52). À luz do
episódio, destaquei como perspectivas para a revisão de vida: a participação,
como família, das tradições religiosas do povo; a confiança dos pais no filho e
nos parentes; o empenho dos pais na educação integral dos filhos; a necessidade
de os pais ajudarem os filhos a descobrirem sua vocação; os pais também
precisam aprender comì os filhos; os filhos aprendem e crescem permanecendo
aberto aos pais e afirmando suas raízes populares.
A participação no encontro depois da missa do lava-pés foi uma bela
surpresa. A missa se estendera das 19:30 às 21:00 horas. Mesmo assim, em torno
de uma centena de pessoas, majoritariamente casais, permaneceram na igreja para
esta reflexão. Obviamente, o encontro não poderia ser muito longo, mas a
atenção e o envolvimento dos casais me comoveu. Como não frustrar tamanha
expectativa e generosidade?
Preparei-me para desenvolver a reflexão voltada ao relacionamento
conjugal, à luz da teologia e da espiritualidade da ceia: a aliança e o
serviço. Tive o propósito de ser concreto e não perder-me em psicologismos e
espiritualismos, mas sem abandonar a perspectiva evangélica. Busquei ajuda em
velhas e inspiradas canções do Pe. Zezinho, como “Utopia” e “Estou pensando em
Deus”. O simples fato de um padre tocar violão, mesmo precariamente,
impressiona e sensibiliza... O resto, a canção e o Espírito se encarregam de
fazer.
Desenvolvi a reflexão em torno de alguns eixos: a vida matrimonial é
aliança entre duas pessoas diferentes em muitas coisas, mas iguais no valor e
na dignidade; à luz da santa ceia e do lava-pés, a aliança implica em
hospitalidade, delicadeza e serviço recíprocos; esta aliança corre perigos e é
ameaçada por discordâncias, resistências, carências, traições; a prova dos nove
da aliança matrimonial é a vida cotidiana – em casa, no trabalho, na carência
de meios, com os filhos, pais e sogros – e não os grandes momentos de festa ou
comemoração; para ser um projeto viável, a aliança matrimonial precisa buscar
inspiração e força na fé, especialmente na aliança de Deus conosco,
sacramentalizada na eucaristia e na reconciliação.
Os quarenta minutos do encontro correram apressadamente, e ninguém os
viu passar. A maioria voltou para casa com gosto de quero mais. E eu com a
clara convicção de que temos nos casais uma terra fértil e generosa a ser
semeada com boa semente e cultivada com respeito e apreço. E o povo de Deus não
tem o direito de esperar isso de um Missionário da Sagrada Família? “Tudo seria
bem melhor se o natal não fosse um dia, se as mães fossem Maria e se os pais
fossem José; e se a gente parecesse com Jesus de Nazaré...”
Itacir Brassiani msf
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