Domingo de Ramos: quem é este que está chegando?
Igreja da Vila do Morro (S. Sebastiao) |
Partimos de Belo Horizonte sábado, 12 de abril, às
5:00 da manhã. Fizemos uma viagem tranquila e chegamos a Montes Claros pouco
depois das 10:00. Fizemos uma breve visita ao Seminário Sagrada Família, que
estava envolvido com a Feira Vocacional da Arquidiocese, e almoçamos com o
coirmão Jorge Paulo e com os seminaristas. Logo partimos de novo: Oberdan e
Milton para Januária, eu e Wanderson para São Francisco. Nestes lugares
viviríamos nossa Semana Santa.
Wanderson e eu pousamos e passamos a manhã de domingo
com nossos coirmãos da Paróquia São José, em São Francisco. No início da tarde,
parti para meu destino: a Comunidade São Sebastião, na Vila do Morro, uma vila
com aproximadamente 1.500 habitantes, situada a vinte e quatro quilomêtros de
São Francisco. Aqui me esperavam Kazim e Lucienne, animadores da Comunidade,
para discutir uma proposta de agenda para esta santa semana. Bastou uma hora
para definir a agenda e me deixar uma certeza: a semana seria muito intensa. Em
seguida, fui conhecer minha anfitriã, cuja fama de simplicidade e generosidadejá
tinha chegado aos meus ouvidos: Dona Lia.
A agenda básica da smunitária todas as noites; visita
a todos os doentes da vila; encontro com os estudantes de todos os turnos da
escola; celebrações poenitenciais e confissões; encontro específicos com
crianças, jovens e casais; participação na missa da unidade, em Januária;
procissão do Encontro; Via-sacra com estações nas casas dos doentes; celebração
da paixão, com via-sacra viva; vigília pascal; celebração da páscoa.
Logo em seguida, às 17:30, iniciamos a missa do domingo
de Ramos. A celebração começou na igreja e, com os ramos abençoados nas mãos, o
povo saiu igreja a fora e girou em torno do quarteirão, animada por cânticos e
orações puxados pelo povo do local. O templo estava repleto de gente curiosa
para conhecer o padre que chegava para passar toda a semana-santa na vila, fato
inédito na história recente do povoado. Mas a curiosidade ficava claramente
muito aquém da piedade.
Jesus entrou em Jerusalém acolhido entusiasticamente
pelo povo simples da periferia e com desconfiança pelas autoridades da cidade.
E foi acompanhado com crítica expectativa pelos discípulos. Não foi uma entrada
que possa ser qualificada de triunfal. Como em Jerusalém há dois mil anos, na
Vila do Morro, as vozes saudavam “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!” E
em ambos os lugares era grande a expectativa e o desejo de conhecer o estranho
que estava chegando...
No meu caso, eu tinha certeza de que o desfecho da
visita deveria ser diferente da visita de Jesus a Jerusalém. Em que pese minha
conhecida lentidão no estabelecimento de contatos e vínculos e a proverbial
reserva dos mineiros, pouco a pouco fomos dando-nos a conhecer, mais eu que
eles. E fui sendo progressivamente surpreendido pela fé, pela simplicidade,
pela humanidade e pela dedicação dessa gente à Igreja. E a semana foi sendo
marcada diariamente por sinais pascais.
Itacir Brassiani msf
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