Doentes: quem pode contar as dores deles?
A visita aos doentes foi parte importante da agenda
preparada pela Comunidade para minha missão na Semana-Santa. Aos poucos fui
descobrindo que esta visita faz parte da agenda essencial desta semana
especial. Parece que participa diretamente do mistério da paixão e morte de Jesus
Cristo.
Visitei em torno de vinte doentes e idosos. Levando em
conta o número de habitantes de Vila do Morro, é muito. E isso ainda sem contar
os muitos idosos que participam normalmente da Comunidade e o impressionante
número de pessoas, especialmente crianças, com algum tipo de deficiência,
física ou mental.
A doença e a fragilidade que costumam acompanhar a
velhice avançada são experiências muito duras e pesadas para todos,
especialmente para aqueles que nos habituamos à autonomia e independência. Mas,
quando se situam num contexto de pobreza, miséria e abandono, são quase
insuportáveis, podem nos desumanizar quem as sofre e assustar quem as conhece.
Esta é a situação da maioria dos doentes que visitei:
idosos, doentes, pobres, solitários. Nesta condição, como esperar que se
apresentem limpos, perfumados, arrumados? A situação em que encontrei muitos
deles me fez lembrar do Servo Sofredor: “Ele não tinha aparência nem beleza
para atrair o nosso olhar, nem simpatia para que pudéssemos apreciá-lo. Desprezado
e rejeitado pelos
homens, homem do sofirmento e experimentado na dor; como indivíduo de quem a
gente eaconde o rosto...” (Is 53,2-3).
De fato, vários doentes e idosos que visitei vivem
sozinhos, com saudade dos filhos esparramados pelo mundo em busca de
sobrevivência. Muitos vivem acompanhados por um neto ou neta, pouco mais que
crianças, que parecem ter já incorporado o olhar distante e a melancolia dos
seus avós. “Ele cresceu como raiz em terra seca... Por suas feridas é que veio
a cura para nós...”
O que significaria para estes irmãos e irmãs
“experimentados na dor” a minha visita? Que mensagem passaria se os saudasse de
longe, se dissesse apenas algumas palavras de ocasião, recomendadas pelo meu
dever de ofício? E como vencer a instintiva barreira que se ergue entre mim e
pessoas em estado tão deprimente? E para elas, isso não é ainda mais
deprimente?
Senhor, derruba estas barreiras e abre minha mente,
meu coração e minha vontade, para que eu me aproxime destas pessoas e seja uma
tênue mas real expressão da tua proximidade compassiva, do teu carinho que
reanima, do teu toque curador, do teu perdão consolador, do teu abraço
regenerador, tanto para eles como para mim.
Itacir Brassiani msf
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