UMA MORAL SEM PECADO?
Costuma-se dizer
que perdemos a consciência de pecado. Isso não é inteiramente verdade. O que
acontece é que a crise da fé trouxe consigo uma forma diferente, nem sempre
mais sã, de encarar a própria culpa. Na verdade, ao prescindir de Deus, não
poucos vivem a culpa de uma forma mais confusa e solitária.
Algumas pessoas
ficaram presas à forma mais primitiva e arcaica de viver o pecado. Sentem-se
manchados pela sua maldade, indignos de viver junto aos seus entes queridos.
Não conhecem a experiência de um Deus perdoador, mas também não encontraram
outro caminho para se libertarem do seu mal-estar interior.
Outras pessoas continuam
a viver o pecado como transgressão. É verdade que apagaram da consciência
alguns mandamentos, mas o que não desapareceu do interior delas é a imagem de
um Deus legislador ante o qual não sabem como se situar. Sentem a culpa como
uma transgressão com a qual não é fácil conviver.
Há outros que
vivem o pecado como autoacusação. Ao diluir-se a sua fé em Deus, a culpa vai-se
convertendo numa acusação sem acusador. Não há necessidade de alguém os
condene; eles mesmos o fazem. Mas como se libertar desta autocondenação? Basta
esquecer o passado e tratar de eliminar a própria responsabilidade?
Também se tentou
reduzir o pecado a mais uma vivência psicológica, um bloqueio ou limite da
pessoa. O pecador seria uma espécie de doente, vítima da sua própria
debilidade. Chegou-se mesmo a falar de uma moral sem pecado. Mas é possível
viver uma vida moral sem vivenciar a culpa?
Para o crente, o
pecado é uma realidade. É inútil encobri-lo. Embora se sinta muito condicionado
na sua liberdade, o cristão sente-se responsável pela sua vida perante si mesmo
e perante Deus. Por isso confessa o seu pecado e o reconhece como uma ofensa
contra Deus, mas contra um Deus que só procura a felicidade do ser humano.
Nunca devemos esquecer que o pecado ofende Deus na medida em que nos prejudica
a nós mesmos, seres infinitamente amados por ele.
Maravilhado com a
presença de Jesus, Pedro reage reconhecendo o seu pecado: “Afasta-te de mim,
Senhor, que sou um pecador”. Mas Jesus não se afasta dele; antes lhe confia uma
nova missão: “Não temas; a partir de agora serás pescador de homens”.
Reconhecer o pecado e invocar o perdão é, para o crente, a forma saudável de se
renovar e crescer como pessoa.
José
Antonio Pagola
Tradução
de Antonio Manuel Álvarez Perez
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