Um Conselho Pontifício para promover a ‘nova evangelização’.
No dia 21 de Setembro de 2010, Festa de São Mateus, Apóstolo e Evangelista, o
Papa Bento XVI instituiu, com o motu proprio Ubicunque et Semper,
o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Este novo
Conselho Pontifício tem o objetivo estimular a reflexão sobre os temas da nova
evangelização e identificar e promover as formas e os instrumentos aptos para realizá-la
(cf. Art. 1). No Artigo 2 diz-se que este Conselho “está ao serviço das Igrejas
particulares, especialmente nos territórios de tradição cristã, onde o fenómeno
da secularização se manifesta com mais evidência” e buscará seus objetivos “em
colaboração com os demais Dicastérios e Organismos da Cúria Romana, no respeito
pelas respectivas competências”.
O Artigo 3 do referido motu proprio apresenta suas tarefas
específicas: a) aprofundar o significado teológico e pastoral da nova
evangelização; b) promover e favorecer o estudo, a difusão e a aplicação do
Magistério pontifício relativo às temáticas vinculadas à nova evangelização; c)
dar a conhecer e incentivar iniciativas ligadas à nova evangelização já em
curso nas várias Igrejas particulares e promover a realização de outras novas;
d) estudar e favorecer a utilização das formas de comunicação modernas, como
instrumentos para a nova evangelização; e) promover o uso do Catecismo da
Igreja Católica, considerado a formulação essencial e
completa do conteúdo da fé para os homens do nosso tempo.
Bento XVI se refere
explicitamente às motivações contextuais que o levaram a tomar esta iniciativa:
a) o processo de afastamento da fé em curso nas sociedades e culturas antes
impregnadas pelo Evangelho; b) a preocupante perda do sentido do sagrado,
conjugada com o questionamento de alguns dos seus fundamentos indiscutíveis
(como a fé num Deus criador e em Jesus como único salvador, compreensão do
sentido da vida, lei natural); c) a progressiva difusão do indiferentismo, do secularismo e do ateísmo
nos países ricos, aliada à secularização e a difusão das seitas nos países
pobres.
O Papa está preocupado fundamentalmente
com os países ricos e tecnologicamente desenvolvidos do Ocidente, onde vê
“regiões que parecem quase completamente descristianizadas”, e com as “Igrejas de antiga fundação”. Bento XVI busca em Paulo VI a idéia de que a
Igreja é, por origem e natureza, voltada à evangelização, mas reduz seu foco à
apresentação da revelação de Deus em Jesus Cristo. Ele não está interessado no
violento e nem sempre lento genocídio ao qual são submetidos os povos e nações
pobres e pressupõe que todos saibam e estejam de acordo sobre o que seja a
‘nova evangelização’.
Pretendendo assumir a preocupação dos seus
Predecessores, Bento XVI diz que considera oportuno “oferecer respostas
adequadas a fim de que a Igreja inteira, deixando-se regenerar pela força do
Espírito Santo, se apresente ao mundo contemporâneo com um impulso missionário
capaz de promover uma nova evangelização”. Está convicto de que todas as
Igrejas que vivem nos “territórios tradicionalmente cristãos” necessitam mesmo
substancialmente de um “renovado impulso missionário”, de uma “profunda
experiência de Deus”. O Papa está preocupado com o renovamento interno da
Igreja, com sua limpeza e purificação, mas não com reformas estruturais. E
sonha com a restauração da influência do cristianismo católico – da instituição
eclesiástica! – no mundo ocidental. Para isso, dispõe do Catecismo, “formulação
essencial e completa do conteúdo da fé”.
Com esta visão e este intuito, Bento XVI
criou um novo Conselho Pontifício. O mundo norte-atlântico ocupa o centro das suas
atenções. A idéia de uma (artigo
indefinido) nova evangelização vem formulada como a (artigo definido) nova evangelização. É dado à luz um novo
Conselho Pontifício sem que sejam estabelcidas claramente suas relações com
outros Conselhos já existentes que se ocupam da mesma questão (Pontifício
Conselho para a Cultura, Pontifício Conselho para a Comunicação Social,
Congregação para a Evangelização dos Povos). Uma visão mais global do mundo e
da Igreja, uma definição mais cuidadosa do objeto que dá nome ao novo
instituto, às suas relações com os demais e com as Igrejas particulares não
podem ser considerados elementos secundários.
Itacir Brassiani msf
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